Apesar de ter seguido, pela primeira vez, aquelas coordenadas, o Portugal Fashion esforçou-se por não descaracterizar o Parque da Cidade do Porto. O pulmão da Invicta está habituado a grandes palcos; o Portugal Fashion ergueu uma megaestrutura de 10 mil metros quadrados. O Parque da Cidade do Porto tem sido eleito por muitas famílias para picnics de fim de semana; o Portugal Fashion promoveu um encontro de gerações com o concurso Bloom a começar o dia e nomes que fizeram os primeiros calendários do certame a acabar a noite.
Maria e Mara

A competição de jovens talentos contou com a apresentação de Rúben Rua, que fez questão de citar exemplos como o do designer Hugo Costa – do Bloom, saltou para a passerelle principal e, dela, para a da semana de moda masculina de Paris.
«Estes oito designers podem saltar daqui para o mundo», sublinhou o modelo. Entre os talentos emergentes a concurso foram coroados dois vencedores.
Maria Meira e Mara Flora foram as distinguidas, arrecadando um prémio pecuniário de 2 mil euros e a oportunidade de ingressar no calendário do Bloom nas próximas duas edições.

«Esta é uma porta que abre outras portas», afirmou, ao Portugal Têxtil, Mara Flora, ex-estagiária de Alexandra Moura, no final de ser reconhecida pela sua coleção intersetada pelo vermelho sangue e inspirada na Hong Kong dos anos 1990.
Paulo Cravo, coordenador do espaço Bloom, fez questão de não fazer parte do júri do concurso, mas deixou uma observação. «Desta vez, fizemos questão de ter a concurso jovens com alguma experiência profissional e não recém-saídos das escolas, e isso foi percetível em termos de coleções», apontou.
O dia seguiu com a estreia da marca 0.9 Vírus, numa vibração mais experimental, e da designer de menswear Daniela Pereira. «A ideia é fazer desta presença uma rampa de lançamento para a criação da minha marca», revelou, no final de mostrar uma coleção iluminada pelo amarelo, Daniela Pereira.
Online e além-fronteiras

Nomes familiares no alinhamento da plataforma dedicada ao talento emergente, as designers Joana Braga, Sara Maia, Beatriz Bettencourt, Nycole e Olimpia Davide regressaram para o outono-inverno 2018/2019 com novidades, corroborando a afirmação inicial de Rúben Rua, e não só.
«Esta coleção foi já pensada para a venda, tudo se pode vestir», frisou Joana Braga, que se apresentou na estação anterior e, agora, voltou com a estética apurada e 15 coordenados, divididos entre womenswear e menswear.

A ultimar o portal de comércio eletrónico da marca epónima, Sara Maia desvendou uma coleção à sua imagem e semelhança. «No fundo, são peças que eu gostaria de vestir, não há uma fonte de inspiração, por assim dizer», explicou sobre propostas andróginas de influência militar.
Também a apostar nas vendas online está Beatriz Bettencourt. «O portal de comércio eletrónico será lançado, no máximo, até julho», adiantou a jovem, que já vende em lojas multimarca como a Scar-id e que, para a passerelle, levou uma coleção bebida no universo da série televisiva “Stranger Things”, pintada de preto, amarelo torrado e verde floresta e forte no lettering, misturas de materiais e tecidos axadrezados.

Dos anos 1980 de “Stranger Things” para os anos 90 do Hip Hop em Nycole, marca orquestrada por Tânia Nicole que já vende na Farfetch e tem vindo a dar cartas no mercado asiático «Consegui manter os clientes que fiz no showroom de Paris [lojas multimarca no Japão] e gostava de ter um showroom lá», afirmou.
Para a próxima estação fria, a jovem designer reinterpretou a estética da subcultura em «silhuetas largas e algumas peças icónicas dos anos 90, como camisas de baseball, sweatshirts, casacos acolchoados, etc.».

Aos nineties voltou também Sara Marques, da marca Olimpia Davide, onde encontrou algumas memórias do irmão.
«Toda a coleção é inspirada no meu irmão, que é professor de edução física e cresceu nos anos 1990, por isso, tem riscas, bonés, metalizados, malhas felpas», esclareceu a designer que garante a maioria das vendas em território nacional.
Aniversário e estreia
A trabalhar na Farfetch, Estelita Mendonça, agora na passerelle principal, mas ex-bloomer, mostrou o próximo passo aos jovens do espaço Bloom.

A coleção que explorou a ideia «de como será a moda no futuro», ainda que algo distante dos figurinos da 7.ª arte e mais próxima da realidade, trabalhou uma paleta colorida, carregada de pormenores e fruto de um cruzamento entre a alfaiataria e o streetwear.
Ainda que tenham legado as honras de abertura da passerelle aos mais novos, Anabela Baldaque e Júlio Torcato selaram o primeiro dia de desfiles no Parque da Cidade do Porto, certificando-se de que a casa ficava arrumada para o dia seguinte.

«Esta é uma coleção mais madura, usei muito o preto, cor que habitualmente não trabalho», destacou Anabela Baldaque sobre as propostas de “Aurora”, coleção carregada de significado. «É o nome da minha mãe e fala dessa passagem da noite para o dia – transição que eu conto através da paleta de cor», confessou.
Se Anabela Baldaque contemplou os céus, Júlio Torcato olhou para as ruas, «de novo e sempre» como ponto de partida para “Re/Wind”. «Acaba por cruzar referências desportivas, e daí os materiais mais técnicos, com elementos clássicos da alfaiataria», elucidou.

A celebrar este ano três décadas dedicadas à moda nacional, Júlio Torcato faz um «mais do que positivo». «São 30 anos, tal como a minha marca, também a moda nacional cresceu. Há 30 anos éramos todos uns bebés», referiu. A filha, Inês Torcato, nasceu nesse hiato, mas cedo caminhou pelo próprio pé. Hoje, abre o segundo dia de desfiles do Portugal Fashion, no Parque da Cidade do Porto, tomando, pela primeira vez, a passerelle principal.
O calendário completo pode ser consultado aqui.