Início Destaques

O preto da vizinha

Para a próxima estação fria, Anabela Baldaque espreitou a vizinha e deixou os seus passos catalogados em chinelos com fivelas e meias, combinados com peças brilhantes e linhas de pelo. Quando lhe perdeu o rasto, a decisão da criadora foi experimentar o preto e assim contar o que pôde sobre uma personagem que vagueia no imaginário citadino e desfila na passerelle do Portugal Fashion.

«Quis brincar com o universo imaginativo de cada ser humano. E acho que também podemos usar uma peça sofisticada, super sedutora e sexy com umas sapatilhas ou uns chinelos. Porque não?», declarou Anabela Baldaque ao Portugal Têxtil sobre a coleção repleta de casacos, conjuntos e vestidos em jogos de sobreposições. «Eu acho que a moda também é irmos para além das nossas próprias regras e daquilo que nos foi imposto», sublinhou, em relação à esdrúxula mistura de cores, texturas e materiais que encaminhou para a passerelle da 38ª edição do evento.

Já sobre a experimentação com o preto – cor que habitualmente não é convocada para a paleta da criadora de moda –, Anabela Baldaque explicou que houve necessidade de o incluir para contar aquela história. «O preto transmite, sem dúvida, mistério. É uma cor que normalmente não uso e tentei jogar o preto com texturas e sobreposições», revela, satisfeita com o resultado final.

No guarda-roupa da vizinha, houve ainda espaço para a introdução do streetwear, em coordenados que vibravam com a atração dos opostos. «Acho que o streetwear como nós vimos, por exemplo, num blusão com umas calças de lantejoulas redondas em baixo – que só são redondas porque temos umas meias a apertá-las – é um bocadinho a espontaneidade que a moda também tem de ter», elucida sobre a coleção que dançou com brocados, pelos quase plumas e impermeáveis em cinzento e prata, azul intenso, pérola e branco, mostarda, preto e dourado.

Cada vez mais comprometida com a sua pegada digital, Anabela Baldaque adiantou ao Portugal Têxtil que o próximo passo de marketing para a marca será a abertura de um portal de comércio eletrónico, estando já a experimentar a venda online na plataforma womanfashionclinic.com. «Acho que o futuro também passa muito por aí. É tudo muito mais universal e o consumidor também está muito diferente, nem sempre vai às lojas, mas quer ter uma peça Anabela Baldaque e tem de ser assim», advogou.

Na loja física da marca em Lisboa (ver Anabela Baldaque já chegou à capital), os franceses e os americanos continuam a ser os clientes estrangeiros que mais entram e saem do espaço do Pátio do Tijolo, no Príncipe Real, pelo que os EUA se começam a mostrar um mercado apetecível. «Em termos de mercados, andamos a tentar a América, isto mais através da loja de Lisboa, porque há de facto muitos americanos que investem por ali e querem petiscar um pouco», referiu a criadora, esclarecendo que, por enquanto, «ainda não há nada de concreto».

Considerada uma das pioneiras da moda portuguesa, Anabela Baldaque justifica a sua criatividade citando a genética. «Depois de tantos anos de carreira e a gostar tanto do que faço, acho que fui abençoada, porque o meu pai e a minha mãe são muito criativos. Não sou eu, é mesmo a herança que eles me depositaram», explicou.