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O regresso aos corantes naturais

Face aos crescentes custos resultantes da rígida regulação ambiental da União Europeia em matéria de corantes e produtos de acabamento, a Tintoria de Quaregna retornou à natureza. Com efeito, a empresa italiana recorreu a métodos ancestrais para desenvolver modernas técnicas de tingimento à escala comercial a partir de uma gama fascinante de ervas, plantas e arbustos.

 

Nenhum produto químico auxiliar nem mordentes são utilizados no processamento da borragem, do sândalo, da hena, da amora silvestre, da açafroeira, da atanásia, da tormentilha, da noz, da casca de cebola e outras ervas e plantas fornecidas por especialistas. Além dos extractos de plantas, o processo envolve apenas água aquecida a certas temperaturas. Os extractos podem ser utilizados mais do que uma vez.

 

A Tintoria di Quaregna estudou mais de 100 plantas e fixou mais de 30 extractos como os mais adequados para a sua gama de corantes “puros-e-verdes”. «Os corantes naturais não são, de modo algum, novos. Mas, no passado, a sua produção comercial implicava processos altamente poluentes, por exemplo para obter cores fortes e brilhantes», sustenta Anna Mello Rella, cuja família é proprietária da Tintoria di Quaregna, ao Wool Record. «Em contrapartida, a nossa técnica é completamente ecológica. Utilizamos somente plantas e água. A solidez à cor, à lavagem, à luz e a repetibilidade são excelentes».

 

A empresa aplicou com sucesso os corantes naturais na lã, caxemira e seda. As tonalidades apresentam um espectro “natural” de pastéis ou cores suaves. A coloração varia de acordo com a fibra utilizada. O tom vermelho pode ser conseguido através da cochinilha, obtida a partir de corpos secos de um pequeno insecto brasileiro parasita dos cactos, e das raízes da tormentilha. Aplicada na caxemira, a cochinilha proporciona uma tonalidade violeta brilhante enquanto que na lã origina um rosa brilhante.

 

A empresa especialista em caxemira Lanificio Fratelli Piacenza está entre os clientes de renome da colecção de corantes “Naturale”. «Estamos muito contentes por trabalhar em harmonia com o meio ambiente», declara Anna Mello Rella, responsável pelo desenvolvimento do projecto “Naturale”. «Todo processo é excepcional. Dá uma enorme satisfação preparar estas ervas e utilizá-las de forma não-poluente».

 

A Tintoria di Quaregna está também a trabalhar com um organismo de certificação orgânico italiano e com uma agência americana para desenvolver processos-padrão para corantes naturais. «Toda a técnica é tão recente que ainda não existem quaisquer normas», afirma Anna Mello Rella.

 

O custo do tingimento natural é cerca de 20% superior ao dos métodos químicos, embora Anna Mello Rella sublinhe que a comparação depende dos materiais a tingir. Por exemplo, o tingimento de fibras nobres como a caxemira com corantes naturais apresentará um custo similar ao do seu tingimento com corantes químicos, mas no caso da lã e do algodão esse custo será mais elevado.

 

Os corantes naturais podem ser aplicados em fibras,tops e fios. «Tentamos estar um passo à frente e colocar-nos numa posição que permita retirar vantagens do crescente interesse dos consumidores pela preservação do meio ambiente e sustentabilidade», explica Anna Mello Rella.

 

A Tintoria di Quaregna foi fundada em 1955 pelo seu pai Alfredo Mello Rella, e foi uma das primeiras tinturarias italianas a possuir uma máquina de tingimento de pressão, que permitiu à empresa tingirtops a altas temperaturas, diminuindo assim o tempo de condicionamento em comparação com os métodos tradicionais e, por consequência, reduzindo consideravelmente a deterioração das fibras. Esta máquina permitiu também o tingimento de poliéster quando este foi importado pela primeira vez dos EUA para Itália na década de 50.

 

A empresa mudou-se para as suas instalações actuais, na Via Marconi, em Quaregna, no distrito de Biella, em 1967 e tem-se expandido de modo a oferecer uma vasta gama de tratamentos e processos, incluindo o tingimento detops e fios em meada e bobina, à prova de encolhimento, e estampagem Vigoureaux. Com uma capacidade de tingimento de 50.000 kg e uma reputação de alta qualidade, a Tintoria di Quaregna serve algumas das mais conhecidas empresas de Biella, especialmente do topo do mercado.

 

«O meu pai sempre acreditou na qualidade e, por consequência, investimos muito em investigação», afirma Anna Mello Rella. «Há três anos implementámos um novo laboratório que nos conduziu a novas linhas. Temos estudado várias formas distintas de acabamentos em fios de modo a conferir-lhes uma nova aparência após o tingimento. Este tratamento que tem tido um grande efeito na lã e no algodão. E estas são boas notícias para os fiandeiros, pois os seus clientes estão constantemente à procura de novas fibras e novos efeitos».

A Tintoria di Quaregna apresentou os seus últimos desenvolvimentos na Pitti Filati. A colecção “Make-up” utiliza pós da indústria cosmética para produzir efeitos de brilho. Uma outra gama, a “Stradust”, possui tratamentos que conferem aos fios um efeito cintilante sob a acção da luz solar.