Na sequência da pandemia, os espaços fechados das feiras deixaram de ser seguros, motivo pelo qual o formato digital passou a ser prioritário para a promoção de sinergias e realização de negócios. Com o aligeiramento das restrições, surgiu o modelo híbrido, que acaba por levantar a questão de como será o futuro das feiras.
Quase um ano depois, as maiores feiras comerciais do sector do denim demonstram estar a ter sucesso ao adotar o formato digital, como Première Vision Paris com o seu Digital Show. A NuOrder, plataforma de comércio eletrónico a cargo da Informa Markets Fashion, estabeleceu uma parceria que designou como a «maior feira digital do sector». Já a Liberty Fairs colaborou com a plataforma de retalho Joor para lançar o primeiro mercado virtual.
Com a chegada da vacina, renova-se a esperança em relação ao formato físico das feiras. Para Andrew Olah, fundador da Kingpins, a notícia revelou-se positiva, visto que no final de 2020 referiu que o certame estaria de volta à China em setembro, no mês de outubro a Amsterdão e a Nova Iorque no final do outono.
A Kingpins, contudo, não é o único certame a querer regressar ao modelo tradicional, tendo em conta que a Informa Markets Fashion planeia realizar, em fevereiro, o evento Magic Pop-Up em Orlando, seguindo-se a Magic Las Vegas em agosto. Por sua vez, a Denim Première Vision tenciona regressa a Milão em maio e a Berlim em novembro.
Regresso gradual
Embora haja uma grande vontade de regressar à interação pessoal, o receio gerado pela atual situação de saúde pública ainda subiste. Tricia Carey, diretora de desenvolvimento de negócios globais da Lenzing, considera que para ser possível a concretização do evento físico no final do ano ainda há muito para fazer. «Como poderá haver feiras de negócios presenciais se as pessoas nem vão ao escritório?», questiona-se perante o número de trabalhadores que desempenham funções a partir de casa. «Há uma ordem pela qual as pessoas vão progredir. Não podemos passar do escritório em casa para viajar pelo mundo», explica Carey, acrescentando que o primeiro passo é voltar à rotina e depois passar às viagens, dando prioridade, inicialmente, aos eventos regionais.
Antes da situação pandémica se ter agravado, a Rivet compilou uma lista de 21 certames da indústria agendados para 2020 na Europa, na Ásia e nos EUA. No entanto, apenas alguns deles tiveram lugar.
Apesar das feiras digitais terem tido um início que dividiu opiniões, são muitos os participantes que já se renderam à conveniência deste formato, que adiciona às negociações o fator conforto e promove também a aceleração de uma indústria mais sustentável.
A pandemia fez, inclusive, com que os organizadores dos eventos presenciais do sector passassem a analisar as respetivas pegadas. Segundo o Council of Fashion Designers of America e a Boston Consulting Group, a Semana de Moda de Nova Iorque gera entre 40 mil e 48 mil toneladas de dióxido de carbono. Mesmo assim, a necessidade do toque não deixará de lado a necessidade da fisicalidade.
Mudanças introduzidas
«As feiras presenciais podem ser fisicamente reduzidas, mas isso não significa, de forma alguma, que irão desaparecer. Vão evoluir e serão mais acessíveis para uma população global, que poderá assistir a um evento através de uma plataforma digital, talvez de todas as partes do mundo. Será uma forma híbrida de trabalhar, à qual já nos adaptamos parcialmente», avança Elena Faleschini, gerente de marketing da Isko em Milão.
O tempo para as negociações estará também mais bem definido, de acordo com as previsões da diretora criativa da Markt&Twigs. «Imagino que agora será mais ou menos como ir ao supermercado: mascarar, fazer uma lista para manter o foco, entrar, encontrar o que preciso e sair», retrata.
Mesmo com todos os efeitos negativos criados pela pandemia, Elena Faleschini destaca as oportunidades. «Esta é a nossa oportunidade de aumentar a eficiência, melhorar a forma como viajamos e capitalizar as ferramentas digitais para aumentar as oportunidades de negócios», conclui.