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Os desafios da ITV colombiana

A indústria têxtil e vestuário (ITV) da Colômbia está a desenvolver esforços no sentido de aumentar as capacidades de produção de fast fashion e de artigos de valor acrescentado, à medida que o “superdólar” amplifica a procura dos EUA e estimula a concorrência.

A Artextil é uma dessas empresas. Com base em Medellín, a Artextil investiu cerca de 2 milhões de dólares (aproximadamente 1,8 milhões de euros) para aumentar a capacidade de tingimento e estamparia em 25%, para 480.000 quilos e 1,1 milhões de metros por mês, respetivamente, referiu o diretor-geral Carlos Andres Aristizabal ao just-style.com. Aristizabal acrescentou que a expansão deve ajudar a reforçar as receitas em 25% este ano, superando o salto de 10% de 2015.

«Comprámos máquinas novas e estamos a expandir a nossa capacidade», destacou Aristizabal. «O mercado está a crescer de forma substancial por causa do dólar. As exportações vão surgir e a substituição de importações vai aumentar a produção este ano». Aristizabal falava no rescaldo da feira de sourcing Colombiatex, em Medellín. O evento de quatro dias atraiu 14.000 compradores que procuravam novas oportunidades de negócios nos sectores têxtil e vestuário.

Os compradores estrangeiros aumentaram 4%, para 1770, vindos principalmente dos EUA, mas também do Equador, Peru e México. Os expositores indianos lideraram o ranking, seguidos por um grande salto de empresas brasileiras à procura de novos negócios na Colômbia.

As empresas colombianas estão a esforçar-se para aumentar a qualidade das marcas locais a fim de substituírem as importações, cada vez mais caras, por artigos produzidos feitos localmente, sobretudo tecidos, calças de algodão, casacos, vestidos e t-shirts. Ao mesmo tempo, estão a apressar-se para aumentar a produção a fim de se precaverem em relação à subida da moeda dos EUA.

O designado superdólar está a estimular ações semelhantes em toda a América Latina, onde os produtores do México, América Central e Brasil estão a correr para aumentar as vendas ao norte da fronteira.

Com a procura em crescendo, como poderá a Colômbia destacar-se?

Através do valor acrescentado, de ciclos de produção curtos e oferecendo de um pacote completo cada vez mais eficiente, apontam os analistas. Os compradores estrangeiros «vêm até nós pela moda e valor acrescentado», afirmou Carlos Andres Aristizabal. «Quando querem preços baixos, vão para a Guatemala ou Honduras», explicou.

Nos últimos meses, o dólar subiu 70% em relação ao peso, tornando a Colômbia mais barata face à China e refletindo uma nova luz na sua capacidade de produção de moda. «Aqui podemos entregar encomendas aos EUA em quatro a oito dias, enquanto a China pode levar meses», destacou Aristizabal.

A Colômbia também oferece melhores serviços de acabamento. «Se formos a uma estamparia [dentro ou fora da Colômbia], ela fornece pigmentos enquanto nós oferecemos cor», ressalvou Aristizabal. «No Brasil, há algumas empresas que oferecem simultaneamente estamparia e acabamentos, mas não é o habitual. Normalmente é preciso estampar, tingir e acabar em locais diferentes».

Os atores que proporcionam o pacote completo, como a Supertex, estão à procura de técnicas mais inovadoras para impulsionar o comércio com os EUA. «Eles estão à procura de qualidades de tecidos mais TransDry [gestão da humidade], absorventes, repelentes à água, antibacterianos e com proteção UV», explicou Carlos Andres Aristizabal, acrescentando que a Artextil está a todo o vapor. Para reduzir os custos, a empresa inaugurou recentemente um novo sistema de gestão de água que reduz o consumo em 100 litros por quilo de tecido.

Juan Carlos Ceballos, responsável de vendas da empresa de química têxtil Biotex, considera que a Colômbia tem boas capacidades de fast fashion. «Temos uma qualidade de design forte, variedade de cores e entrega rápida para pequenas encomendas», apontou Ceballos, acrescentando que as empresas estão a procurar melhorar os serviços. Atualmente, várias empresas oferecem bons serviços de pacote completo, fazendo «peças de alto valor com fibras especiais, como Lycra ou Tencel», referiu Ceballos.

O Brasil também tem uma moda forte em denim de qualidade e roupa de praia, mas a sua distância da América do Norte coloca grandes desafios, fazendo da Colômbia um parceiro de sourcing mais atraente, destacou Juan Carlos Ceballos. As empresas colombianas também produzem bons básicos, com mais variedades de design, bordados e estampados a preços ligeiramente mais elevados do que os da China ou da América Central, mas com maior qualidade, destacou ainda Ceballos.

«Aqui oferecemos design. A América Central é muito básica», corrobora Carlos Eduardo Botero, presidente da Inexmoda, organizadora da Colombiatex. De acordo com Botero, cerca de 30% do vestuário produzido na Colômbia é de valor acrescentado. Muitos produtores estão a começar a adicionar acabamentos e processos amigos do ambiente. Face ao dólar forte, cerca de 15 empresas estão a aprofundar os seus serviços de pacote completo e o número deverá aumentar acentuadamente a médio prazo, referiu Botero. A CI Jeans, Supertex, Grupo Crystal, Denim Factory, Fabricato e a Coltejer são algumas das maiores empresas nesta investida, acrescentou.

As dificuldades

Os fornecedores enfrentam uma série de obstáculos que um aumento nas exportações traz à superfície, incluindo a falta de tecidos, maquinaria ultrapassada, custos de energia elevados e falta de financiamento. «Os maiores atrasos vêm da escassez de matérias-primas como o poliéster/Lycra, poliamida/Lycra, algodão penteado, pele de pêssego ou microfibras», explicou Diana Margarita Rivera, diretora de sportswear da Supertex, acrescentando que a diferença pode provocar atrasos na entrega até 45 dias.

A Supertex, fornecedora da Adidas, Under Armour e Nike, planeia construir uma unidade de fiação num futuro próximo, revelou Rivera, acrescentando que isso deve ajudar a reduzir os prazos de entrega dos atuais nos 90 dias para 60 dias.

A Colômbia precisa de milhões para instalar uma capacidade de produção de tecidos mais especializados e centrados na moda a fim de arrecadar uma fatia maior do bolo global do sourcing, acrescentou Rivera.

A modernização das máquinas

«Temos muitas máquinas antigas, ineficientes, com um consumo de água muito elevado», afirmou Juan Carlos Ceballos. Pelo menos 40% dos equipamentos têm de ser atualizados, especialmente com novos teares de malhas circulares e maior automação num sector que é apenas 25% automatizado. O aumento dos preços de eletricidade é, também, um grande entrave, combinado com uma falta de financiamento bancário.

A Colômbia deverá também esforçar-se para resolver o impasse do acordo de livre comércio com os EUA (FTA na sigla original) e estabelecer relações comerciais com o Canadá (com o qual está a negociar, também, um FTA) e com o Perú. Porém, a derradeira viragem do jogo poderá acontecer com a integração na Parceria Trans-Pacífica (TTP) que abarca a Colômbia, o México, o Chile e o Peru.

«Nós precisamos de ter uma regra de origem para exportar entre os quatro países», advogou Ceballos. «Neste momento temos regras muito fortes e difíceis para exportar para o México. A concorrência não é entre nós, mas contra a Ásia», sublinhou.

Se isso acontecer, as exportações para os EUA poderiam ganhar força e, eventualmente, atingir o nível de 600 milhões de dólares de 2004, antes de começarem a cair para atingirem apenas os 250 milhões no ano passado. As vendas para o mercado mexicano, cada vez mais fundamental, também poderiam acelerar além dos 100 milhões por ano, concluiu Carlos Eduardo Botero.