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Os (des)bloqueios do sourcing

Os retalhistas precisam de abandonar a obsessão pelos custos de sourcing e concentrar-se em reinventar o modelo operacional para desbloquear o valor retido nas cadeias de aprovisionamento, alerta o mais recente relatório da Kurt Salmon.

A pressão dos preços, os custos com a mão de obra e as exigências de capacidade de resposta/velocidade são as três principais preocupações dos executivos de sourcing, de acordo com um recente relatório da consultora Kurt Salmon, intitulado “From Cost Focus to True Value Creation – on the Road to Analytical Sourcing & Supply Chain”.

«Os mercados de sourcing de vestuário e calçado com custos estáveis são raros, a grande maioria mostrou aumentos significativos nos custos de produção. Isso não afeta apenas a China, que já está em tendência ascendente há muitos anos, mas também muitos dos destinos de baixo custo, como o Bangladesh, o Paquistão e a Indonésia», afirma a consultora.

Os recentes aumentos foram impulsionados pelos custos com a mão de obra e pela força das moedas locais nos mercados de sourcing em relação ao euro e ao dólar.

A escalada dos custos com a mão de obra, concretamente, está a ser impulsionada pela subida do salário mínimo, especialmente na China.

Por consequência, as marcas e os retalhistas continuam à procura de alternativas nos seus mapas de sourcing globais, deslocalizando a produção para capitalizar com mercados mais rentáveis. No entanto, segundo os analistas, estão apenas à procura de uma solução temporária para um problema de longo alcance.

A reinvenção do modelo operacional

Ainda que a transferência de encomendas para países de baixo custo possa parecer uma saída, o relatório sublinha que os efeitos são limitados.

«Há alternativas muito mais efetivas para construir uma resposta verdadeiramente diferenciadora aos atuais desafios do mercado nos campos do desenvolvimento do produto e do sourcing», assegura a Kurt Salmon.

O relatório sugere que uma maior proximidade entre o desenvolvimento de produto e o fornecedor pode desempenhar um papel importante no desbloqueio das margens, proporcionando «verdadeiro valor para o consumidor e diferenciação da marca em relação à inovação, time to market, fiabilidade e excelência na execução, qualidade e sustentabilidade».

Inovação – O elemento-chave para a diferenciação num ambiente competitivo é a inovação.

Time to market – Exige uma melhor auscultação das necessidades dos consumidores para decisões sobre conceito, design e desenvolvimento e um mix entre offshoring (deslocalização para o exterior) e nearshoring (aprovisionamento de proximidade), o chamado omnishoring (ver Omnishoring entra no dicionário têxtil). A verdade é que, embora a deslocalização possa reduzir determinados custos, reduz também a capacidade de inovação das empresas.

 

Capacidade de resposta – A maioria do stock de final de estação (e das consequentes reduções) decorre de uma resposta desalinhada com as necessidades do mercado e dessincronizada com a procura em loja e online.

Fiabilidade e excelência na execução – Um atraso na entrega de uma ou duas semanas diminuirá a performance de venda se o ciclo de vida planeado for de apenas oito semanas.

Qualidade e sustentabilidade do produto – A responsabilidade social e ambiental na produção não podem surgir depois dos custos em importância, com as empresas de vestuário a arriscarem assim o seu futuro. As devoluções decorrentes de expectativas goradas em relação à qualidade, tamanho e fitting dos produtos são um custo essencial.

Para a Kurt Salmon, a tecnologia será o elemento-chave para desbloquear o valor retido na cadeia de aprovisionamento.

A tecnologia irá permitir uma melhor colaboração, visibilidade e controlo de toda a cadeia, o que, por sua vez, melhorará a inovação, time to market, fiabilidade, execução, qualidade, etc. Adicionalmente, a análise de dados pode ajudar os retalhistas e marcas a melhorarem as vendas, cortarem nas reduções e incrementarem as margens. A automação melhorará a eficiência e, em última instância, reduzirá os custos.