Um novo relatório do grupo intergovernamental International Cotton Advisory Committee (ICAC) revela que os stocks mundiais aumentaram 47%, para 13,6 milhões de toneladas na época 2011/2012, que terminou a 31 de julho. Os stocks aumentaram devido a vários fatores, incluindo o recente recorde nos preços do algodão, que encorajou a produção de algodão mas reduziu a procura das fiações pela fibra, assim como o abrandamento económico mundial. A subida nos stocks mundiais e o declínio no consumo de algodão também despoletou uma quebra de 39% nos preços internacionais do algodão, sublinha o ICAC, com o Cotlook A Index com uma média de um dólar por libra em 2011/2012. Ainda assim, um valor consideravelmente mais elevado do que a recente média de 60 cêntimos de dólar por libra nos 10 anos entre 2000/2001 e 2009/2010. A compra recorde de 5,2 milhões de toneladas de algodão pela China, com o país a focar-se na construção da sua reserva nacional, ajudou a evitar que os preços caíssem ainda mais. Com efeito, as compras de algodão internamente pela China National Cotton Reserve Corporation reduziram a quantidade de fibra disponível nas fiações domésticas e aumentou os preços internamente. Devido a quotas de importação mais pequenas do que o esperado durante o ano, uma grande quantidade de algodão importado pelas fiações chinesas estava ainda retido nos portos no final de julho, indicou o ICAC. O grupo acrescenta que na época 2011/2012, 90% do ganho nos stocks mundiais de algodão teve lugar na China, onde os stocks quase triplicaram para 6 milhões de toneladas enquanto os stocks no resto do mundo subiram apenas 5%, para 7,6 milhões de toneladas. As previsões para a nova época apontam para uma quebra de produção na ordem dos 9%, para 24,7 milhões de toneladas, e a utilização mundial de fiações de algodão aumentou ligeiramente para 23,2 milhões. Isto deve-se, em parte, ao abrandamento do crescimento económico, mas também devido ao elevado preço do algodão na China, que está a levar as fiações do país a mudarem para fibras alternativas. O excesso resultante de 1,6 milhões de toneladas irá levar a um aumento de 11% nos stocks mundiais, para 15,2 milhões de toneladas, ou 69,8 milhões de fardos no ano. Embora o governo chinês deva comprar uma grande parte da nova colheita de algodão à medida que a reserva nacional continua a crescer, as importações do país deverão cair 2,6 milhões de toneladas devido a uma combinação de maior oferta, menor consumo e políticas governamentais pensadas para apoiar os preços internos. Contudo, os stocks estão a acumular-se a uma taxa mais acelerada fora da China, impulsionada por preços de algodão mais baixos e uma ligeira recuperação no consumo. O resultado pode significar uma quebra de 20% no comércio mundial de algodão, para 7,5 milhões de toneladas em 2012/2013. Na sua mais recente previsão, o Departamento de Agricultura dos EUA estima que os stocks mundiais de algodão irão atingir um novo recorde de 74,7 milhões de fardos no final de 2012/2013, um aumento de 10% em comparação com o ano anterior. Esta previsão é 4,9 milhões de fardos mais baixa do que a do ICAC, mas ainda assim significa um pico recorde. Também aponta para um aumento dos stocks mundiais de algodão pela terceira época consecutiva e afirma que os esforços da China para reconstruir a sua reserva nacional irá permitir que a quota de stocks do país duplique para 46% até ao final de 2012/2013 quase atingindo a quota de stocks detida por todos os outros países em conjunto. «Será necessária uma mudança de política pelo governo chinês para tornar estes stocks disponíveis no mercado», destaca o Departamento de Agricultura. A sua primeira sondagem aponta para um aumento de 2,1 milhões de fardos na produção de algodão dos EUA na nova época, para 17,65 milhões de fardos, com a procura do algodão americano em 15,5 milhões de fardos o segundo mais baixo desde 1998/1999. As exportações deverão ficar-se pelos 12,1 milhões de fardos, com a quota dos EUA no comércio mundial a descer 3%, ficando abaixo da média dos últimos cinco anos, em 32,5%. No geral, concorda que a produção de algodão continua abaixo da utilização das fiações, com quebras nos outros grandes países produtores China, Índia, Paquistão, Brasil e Austrália reduzindo em 7% a colheita mundial em comparação com o recorde de 122,7 milhões de fardos, para o seu nível mais baixo em três anos. E na sua Monthly Economic Letter de agosto, a Cotton Incorporated sublinha que embora os agricultores no hemisfério norte tenham já plantado as suas colheitas para 2012/2013, os do hemisfério sul podem escolher mudar para outras produções, como milho e soja, cujos preços aumentaram para níveis altos recorde. «Se mantido durante a primavera de 2013, a separação entre os preços do algodão e do milho/soja pode também levar a mudanças significativas, com o afastamento do algodão no hemisfério norte para a colheita de 2013/2014», indica. Também sugere que a previsão de um rácio recorde stocks-uso (uma medida da oferta) de 69% em 2012/2013 «pode manter em baixa a pressão sobre os preços do algodão no outono». Os preços internacionais do algodão para entrega em outubro estão atualmente nos 72,2 cêntimos de dólar por libra e não deverão aumentar a não ser que a oferta desça dos seus atuais níveis recorde, considera a Cotton Incorporated. Para além das áreas, outro fator importante para determinar se os preços vão eventualmente começar a aumentar é a procura. Mas o consumo para 2012/2013 está previsto manter-se 12,7% ou 15,8 milhões de fardos mais baixo do que o recorde de 123,9 milhões, atingido em 2006/2007.