Nos últimos anos, a Índia destacou-se como o mais popular destino e um dos mais promissores mercados para o retalho. Os primeiros passos dados pela VF Corporation neste país aconteceram quando a empresa americana concedeu a licença de vestuário da marca Wangler à DuPont Sportswear (sem qualquer relação com o gigante da química DuPont), nos finais de 1980. Nessa altura, a VF fez uma abordagem agressiva ao mercado, e encetou conversações com empresas indianas de todas as formas e tamanhos. Em pouco tempo, a VF escolheria a Arvind Mills, o terceiro maior fabricante de denim do Mundo, como licenciado da Lee. A Arvind tinha a sua própria marca, designada de Flying Machine, mas pretendia vender marcas internacionais na Índia. A Lee acabaria por se transformar na melhor alfinetada da Arvind no segmento superior do mercado de jeanswear. Neste ponto, era legitimo discutir-se os prós e os contras da VF ter lançado duas das suas marcas no segmento premium. Tal deveu-se ao facto de, enquanto marcas semelhantes que estavam a lutar por um pequeno espaço no topo, o próprio mercado estava a desenvolver-se com várias marcas indianas de segmento médio, que começavam agora a invadir o seu próprio mercado. Deste modo, e apesar do sucesso inicial, o acordo com a DuPont ficou aquém das expectativas da VF. Enquanto que a Arvind investia na criação de lojas franchisadas exclusivas da Lee, para além da distribuição através de outlets multi-marca, suportada por enormes quantidades de publicidade e crédito comercial significativo, a reduzida dimensão da DuPont Sportswear permitia-lhe acompanhar a estratégia da Arvind apenas parcialmente. No final da década, a VF decidiu transferir a licença para a Arvind Mills, que relançou a marca Wrangler em 2000 e investiu na sua revitalização. Actualmente, em termos de vendas, a Lee contínua a liderar, o que é evidente no facto de contar com 74 lojas, contra as 55 lojas exclusivas da Wangler, registadas até ao final do último exercício. Em conjunto, a Lee e a Wangler pretendem perfazer aproximadamente 80% do valor total de todas as vendas das marcas pertencentes à VF na Índia, e 10 a 12% do total do mercado do denim. As constrições dos licenciadosOs outros lançamentos da VF, no início dos anos 90, também não atingiram os objectivos propostos, devido às (más) escolhas dos licenciados. Primeiramente, a empresa lançou a marca de criança Healthtex com a Ocean Knits e, depois, a de lingerie Vanity Fair através da Very Fine Apparels, sendo ambas as empresas maioritariamente detidas pelos mesmos proprietários. Ambas as marcas foram prejudicadas pela falta de capital disponível para criar impacto em segmentos de mercado que eram "sensíveis ao preço" e fragmentados. A Healthtex foi lançada, primeiramente, pelas lojas Little Kingdom (também detida pelos mesmos proprietários), que era, na altura, a principal cadeia de retalho de roupa de criança. Os objectivos não foram atingidos e, em meados de 1990, a Healthtex tinha já "desaparecido", sem grande estardalhaço. Quando a primeira licença estava em vias de expirar, a VF deu novo voto de confiança à Arvind, transferindo a licença da Healthtex para esta, que a relançou em 2002. A história do lançamento da Vanity Fair foi ainda mais curta. A marca entrou no mercado indiano em 1995, como um produto totalmente importado, com preços de mercado bastante elevados, e acabou por desaparecer pelas mesmas razões que a Healthtex. No entanto, tal como com as suas outras marcas, a VF deu provas de uma persistência inabalável e relançou a Vanity Fair no mercado indiano em 2003, através da La Reine Fashions, uma empresa do grupo Maxwell, líder do segmento da roupa interior na Índia. Desta vez, a gama de produtos consistiu numa mistura de estilos importados e fabricados domesticamente, a um terço do preço do lançamento inicial, registado uma década antes. Embora estivesse afincada no segmento de mercado Premium, o mercado à sua volta cresceu ainda mais como marcas como a Triumph, Marks & Spencer e outras, pelo que se espera que o desempenho da Vanity Fair seja melhor do que na primeira incarnação. Tendo estabelecido uma rede de distribuição razoavelmente vasta e profunda com as licenças da VF e de outras marcas, assim como com as suas próprias, a Arvind Fashions lançou ainda as marcas de acessórios Jansport e Kipling. Em 2005, as boas relações com a VF permitiam-lhe abarcar quatro marcas principais. Com esta panóplia de marcas sob a mesma licença, era lógico que a VF voltasse a confiar na Arvind para a sua mais recente e grande aquisição: a Nautica. Durante o seu lançamento em 2006, a presidente da Náutica, Denise Seegal, afirmou que «a reputação da Arvind em lançar e manter, com sucesso, marcas internacionais fez dela a nossa parceira ideal». A Arvind inaugurou as primeiras lojas da Nautica na Índia, mais precisamente em Bangalore (uma loja exclusiva de 6.800 metros quadrados) e em Nova Deli, em Maio 2006, planeando chegar às 12 e, depois, abrir as lojas seguintes em regime de franchising. Veículo de risco comum à medida que o envolvimento com a Índia se foi intensificando, o desejo da VF em controlar a sua presença num mercado estratégico como este acabou por vir ao de cima. Desde 2004, o presidente da Arvind Brands, Darshan Mehta, gastou grandes quantidades de tempo nos EUA, a negociar os detalhes de um negócio que culminou na primeira joint-venture da VF no mundo. Esta joint-venture deverá agora ser o veículo para lançamento de outras marcas da VF na Índia, assim como de potenciais aquisições de marcas indianas no futuro. A actual infra-estrutura de retalho vai ser detida pela Arvind, e espera-se que se expanda das actuais 270 às 300 lojas até Março de 2007. No entanto, há negociações em curso a Reliance Industries, o novo negócio de retalho indiano avaliado em 20 mil milhões de dólares, para lançar as marcas Hero e Riders no segmento de mercado médio O envolvimento da VF com o mercado indiano passou de uma tentativa mal sucedida com uma marca, em 1980, para múltiplas licenças e múltiplas marcas de sucesso. A sua consolidação numa joint-venture maioritariamente detida pela VF reflecte o seu desejo de controlar um negócio em crescimento num mercado estratégico. Realçando isto, Mackey J McDonald, presidente-executivo da VF Corporation, afirmou após a formação da joint-venture: «com a sua economia em franca expansão, uma base de retalho cada vez mais importante e características demográficas favoráveis, a Índia constitui uma fonte de enorme crescimento futuro para as nossas marcas. Este passo realça o nosso compromisso de alavancar o poderoso portefólio de marcas da VF, de forma a agarrar novas oportunidades de crescimento em mercados em expansão».