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Patrocínio à moda londrina

Várias plataformas têm vindo a proporcionar apoio financeiro e institucional aos jovens designers que procuram deixar a sua marca no universo da moda britânica, como está a ser o caso da dupla portuguesa Marques‘Almeida, que desfila na semana de moda de Londres.

Com os seus looks de denim gasto, o duo Marques‘Almeida ganha fama no palco da moda londrina, apoiado por um programa de patrocínios que tem ajudado vários outros designers de moda esta estação. Os criadores portugueses Marta Marques e Paulo Almeida têm reunido elogios às suas coleções, inspiradas no estilo grunge dos anos 90, desde que lançaram a sua marca em 2011.

Esta estação, alargaram o reportório com a apresentação de um desfile no museu Tate Britain, no âmbito das comemorações da semana da moda de Londres, recheado de cor, malhas e tops em camadas, saias e calças de padrões florais. Estas apresentações atraem compradores e despertam a atenção dos media, refletindo-se positivamente sobre as vendas da marca, mas os custos que lhe estão associados, nomeadamente a reserva de espaços e contratação de modelos, são muito elevados. «É absolutamente impossível fazê-lo sem apoios a não ser que se reduza o âmbito do evento, e isso não trará os mesmos resultados», afirmou Marta Marques à AFP.

Desde 2012, a marca portuguesa tem beneficiado de apoios no âmbito do programa New Generation (NewGen), desenvolvido pelo British Fashion Council, em colaboração com a marca de moda Topshop. O projeto comparticipa os custos de produção e renda do espaço esta estação, num valor que Marta Marques estima rondar os 27 mil euros, mas a marca teve de suportar os restantes custos associados ao evento. Os custos de apresentações mais teatrais que reúnem modelos de elite podem alcançar as centenas de milhares de euros. O projeto NewGen apoia jovens designers que se formaram em escolas de moda londrinas. Entre os seus antigos beneficiários destacam-se Alexander McQueen, Christopher Kane e J.W. Anderson, tendo todos eles conseguido o investimento posterior de importantes casas de moda. Mais de metade dos designers desta estação beneficiou do apoio do projeto NewGen ou do Fashion Fringe, um esquema de patrocínios similar, entre os quais se incluem Gareth Pugh, Simone Rocha e Mathew Williamson. Mas, por cada McQueen, há inúmeros designers que falham a escalada neste duro sector e Marta Marques diz-se consciente das consequências futuras da ausência de apoios financeiros. «Estamos muito preocupados», reconhece a designer de 28 anos. «Procuramos tomar as medidas necessárias para estarmos preparados quando esse momento chegar».

Estupidez infantil

Warren Noronha obteve o patrocínio da NewGen em 2003, num momento em que era apontado como o designer mais promissor do universo da moda londrina, elogiado pelas suas criações sensuais e sentido de espetáculo. Atualmente vive em Los Angeles e trabalha em marketing digital, tendo liquidado a sua marca em 2005. «Eu não tinha capacidade de produção. Quando os grandes armazéns Barney’s me vieram bater à porta, não pude satisfazer os pedidos», revela o antigo designer. Noronha relembra que, nessa altura, o patrocínio significava apenas apoio financeiro. Hoje providencia também aconselhamento, monitorização, contactos na indústria e a oportunidade de conhecer compradores em Paris, como parte do apoio dado pelo governo britânico aos showrooms londrinos.

Marta Marques garante que esta faceta do programa «tem sido inestimável», admitindo que não sabia sequer como registar a sua empresa no princípio, e Noronha confessa que trocaria as ajudas financeiras que lhe foram dadas por mais apoio institucional. Mas afirma-se sem arrependimentos: «É necessária uma certa dose de estupidez infantil para construir a própria marca, pelo menos da forma como eu o fiz. Isso já passou».

Pressão comercial

A marca britânica Meadham Kirckhoff, cujo estilo punk evoca os primeiros anos de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, beneficiou de patrocínios ao longo de sete estações, até 2010. O duo de estilistas não reúne consenso entre os críticos mas continua a ser pretendido pela Harvey Nichols e Browns e colaborou, no ano passado, com a marca Topshop. Apesar deste aparente sucesso, não marcou presença nas passerelles desta estação, referindo dificuldades em acompanhar as exigências implacáveis do calendário da moda. «O que nós criamos, vendemos de seguida. O nosso problema tem sido sempre dar resposta às encomendas das lojas», aponta Edward Meadham, refletindo os problemas já expostos por Noronha. Um porta-voz da marca assegurou que este não será um afastamento definitivo das passerelles, mas apenas um interregno.

A blogger de moda Susanna Lau, do blog Style Bubble, advertiu para as falhas de uma indústria que continua a recear o pouco convencional. «Tudo tem de ser instantaneamente vendável, comercial e qualquer coisa remotamente louca não consegue alcançar o destino ou fazer-se sequer à estrada», escreveu. «E, mesmo assim, permanecemos na ilusão de uma indústria que promove o que é novo, o entusiasmo e a inovação».