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Pelo verdadeiro vendido como falso

A campanha contra o uso de peles naturais acaba de sofrer o mais duro dos reveses. Vários retalhistas do Reino Unido foram acusados de vender roupa e calçado fabricados com pelos animais de coelho, raposa e até chinchila como sendo não-naturais.

A investigação levada a cabo pela Sky News e a Humane Society Internacional (HSI) denunciou a presença de pelo de raposa, coelho, chinchila e vison em artigos como chapéus, sapatos, cachecóis e casacos, vendidos por retalhistas como a Not on the High Street e Miss Bardo.

Durante 8 meses, a Sky News, a par da HSI, iniciou uma investigação com o objetivo de alertar para a criação maciça estrangeira de animais para obtenção do seu pelo, posteriormente etiquetado como pelo artificial e comercializado no Reino Unido. A polémica estendeu-se já ao parlamento e alguns deputados exigem a proibição de importação deste tipo de artigos.

O resultado deste processo deu conta de um casaco da TK Maxx, vendido online, com a indicação de “pelo sintético”, mas fabricado com pelo de raposa. De acordo com o website da marca, desde 2003 que o pelo verdadeiro deixou de ser utilizado nos seus artigos. Na Boohoo foram encontrados sapatos produzidos com pelo de coelho e brincos com pelo de vison, tal como na Etsy. A Miss Bardo comercializou chapéus com pelo de raposa e na Amazon foram descobertos sapatos de criança fabricados com pelo de coelho, o mesmo em relação a porta-chaves da Groupon.

«Estamos muito desiludidos pelo facto dos nossos elevados padrões terem sido violados. Os artigos em questão foram retirados de venda e está a decorrer uma investigação no sentido de apurar a falha na política e nas normas», revelou a marca Boohoo.

Por sua vez, a Amazon também veio a público alertar que «todos os vendedores devem cumprir com as nossas normas de venda e aqueles que não o fizerem serão sujeitos a ações que poderão incluir o encerramento da própria conta. Os produtos em questão já não se encontram disponíveis».

A legislação em vigor

O Reino Unido proibiu a criação de animais para extração do pelo em 2000, mas, segundo a HSI, não existe uma obrigação legal que implique a terminologia “pelo” em artigos que contenham pelo verdadeiro. A regulamentação da União Europeia exige que os artigos considerados “produtos têxteis” sejam complementados com a designação “contém partes não-têxteis de origem animal”, mas não é explicito para os consumidores que os artigos contêm “pelo verdadeiro”. Na prática, esta imposição raramente é cumprida.

Os produtos vendidos online não são obrigados a conter esta denominação, assim como o calçado ou os acessórios (não-vestuário), tais como malas e porta-chaves. A HSI reivindica o estatuto de zona livre de pelos de origem animal para o Reino Unido, pretendendo incluir na lista de pelos banidos os de gatos, cães e focas.

«Enquanto membro do mercado único da UE e respeitando as leis relativas à livre circulação de mercadorias, o Reino Unido não tem liberdade para proibir a importação de pelos animais produzidos por vários países europeus. No entanto, o Brexit poderá conferir a liberdade necessária para responder ao desagrado do público e fechar todas as fronteiras a este comércio cruel e desatualizado», referiu a HSI em comunicado.