Analisando a evolução entre 1994 e 2001 destaca-se o milagre espanhol. Será que o segredo do seu sucesso está nas grandes cadeias de vestuário? Analisados de um ponto de vista isolado, os resultados obtidos pela indústria têxtil e do vestuário portuguesa em 2001 são, aparentemente, bastante positivos. Tendo em conta a forte concorrência neste sector, a crescente liberalização das trocas e a transferência de poder de mercado dos produtores para os distribuidores, o crescimento verificado no volume de negócios e nas exportações terá sido satisfatório, não obstante a diminuição nas margens. Contudo, analisando o período entre 1994 e 2001 e, sobretudo, comparando a evolução da ITV nacional com as indústrias de outros países europeus, é clara a necessidade de uma nova postura e a redefinição de estratégias para que seja possível vencer o desafio de 2005. Espanha vence O Observatório Têxtil do CENESTAP analisou a evolução da indústria têxtil e do vestuário entre 1994 e 2001 em Espanha, Itália e França e comparou os resultados com os da ITV nacional. A conclusão é clara: Espanha é o vencedor, até ao momento, desta corrida para dominar o têxtil na Europa. A Itália mantém-se como o líder europeu, apresentando um crescimento razoável, sobretudo tendo em conta a dimensão da sua indústria. O caso francês é mais problemático. A ITV francesa apresenta uma taxa de crescimento das exportações interessante, com uma tendência para a alteração do perfil mas, simultaneamente, vê o volume de negócios da sua indústria crescer apenas 9% entre 1994 e 2000. Relativamente a Portugal, o crescimento do volume de negócios das empresas da ITV entre 1994 e 2001 terá sido de 20%, ou seja, uma taxa média de crescimento anual de 2,6%. As exportações cresceram a um ritmo médio de 4,0% e as importações a 5,9%. Os dados disponíveis relativamente à ITV italiana permitem concluir que as exportações cresceram substancialmente mais do que o volume de negócios das empresas, indiciando uma importância crescente da procura externa para o negócio têxtil da Itália. Entre 1994 e 2001 a facturação das empresas italianas da ITV cresceu 11%, mas as exportações cresceram substancialmente mais, situando-se a sua taxa de variação nos 46%. Contudo, o crescimento das importações suplantou o das exportações, com uma taxa de 59% entre 1994 e 2001. Facturação em 94 Considerando os quatro países, o valor total da facturação em 1994 ascendia a 85,3 mil milhões de euro, dos quais 50% eram gerados pela ITV italiana, 26,6% pela ITV francesa, 15,0% pela ITV espanhola e 8,3% pela ITV portuguesa. Neste ano de 1994, o valor total das exportações de têxteis e vestuário dos quatro países em análise ascendia a 35,9 mil milhões de euro, com a Itália a assumir a liderança (19,5 mil milhões), seguida pela França (9,8 mil milhões), Portugal (3,9 mil milhões) e Espanha (2,7 mil milhões). Desagregando as exportações por produto, destaca-se uma inversão das posições de Espanha e Portugal no caso dos têxteis, com a Espanha a exportar 1,7 mil milhões e Portugal com 652 milhões. Itália a liderar No caso do vestuário, a ordem mantinha-se com a Itália a liderar, seguida pela França, Portugal e Espanha. Destacava-se a performance dos têxteis-lar portugueses, com a liderança no valor exportado (529 milhões), seguida pela Itália (341 milhões), França (295 milhões) e, na última posição, a Espanha, com 207 milhões. Em conjunto, estes quatro países detinham uma quota de 45,8% do total de exportações dos países da U.E.. Preços de 1994 Uma análise aos preços médios de exportação de 1994, avaliados em euro por quilograma permitia concluir que Portugal era o país com preços médios de exportações mais reduzidos nos têxteis e no vestuário, destacando-se contudo os têxteis-lar, produto no qual o preço médio de exportação era significativamente mais elevado que nos outros três países. No caso dos têxteis, o preço médio de exportação mais elevado era o da Itália com 8,9 euro/Kg, seguida pela França e Espanha. Os produtos têxteis portugueses eram exportados a 3,6 euro/Kg. No vestuário a liderança era da França (45,2), seguida pela Itália (43,1) e Espanha (27,5). Em último lugar estava Portugal com 22,3. Comparando os preços médios de exportação portugueses com os preços médios das exportações dos países da U.E., destacam-se os têxteis-lar nacionais, com um preço superior em 121,1%, enquanto que no caso dos têxteis os preços nacionais eram de apenas 68,5% dos preços médios europeus. No caso do vestuário, a diferença era inferior, com os preços nacionais a situarem-se nos 76,8% do preço médio europeu. Panorama em 2001 Em 2001 o panorama da ITV europeia era já bastante diferente. A evolução dos principais indicadores até 2001 permite detectar um conjunto de tendências relevantes, das quais se destaca, como já foi referido, o boom da ITV espanhola. No último ano o volume de negócios da ITV dos quatro países terá ascendido a 99,5 mil milhões de euros, registando-se uma descida da quota da Itália e França, para, respectivamente 47,9% e 25,0%; um forte crescimento da quota espanhola para os 18,7% e um ligeiro aumento do peso da ITV nacional, passando de 8,3% para 8,5%. Os dados relativos ao comércio internacional são ainda mais elucidativos: entre 1994 e 2001, considerando apenas os valores da Itália, Espanha e Portugal (os dados relativos à França estão apenas disponíveis até ao ano 2000), verifica-se que a ITV espanhola conseguiu aumentar as suas exportações num valor, surpreendente, de 119%, com os têxteis a crescerem 98,1%, o vestuário a registar uma taxa de crescimento meteórica de 179,6% e os têxteis-lar com uma taxa relativamente baixa, na ordem dos 45,7%. As exportações da ITV italiana cresceram, no mesmo período, 45,6%, destacando-se a performance dos têxteis-lar (+74,5%). As taxas de crescimento dos têxteis (+44,0%) e do vestuário (+46,1%) não foram muito significativas. Crescer mas pouco O caso português é, de certa forma, preocupante. As fortes vantagens comparativas do vestuário nacional foram-se deteriorando ao longo dos anos, como o atesta o facto das exportações terem crescido apenas 12,3% entre 1994 e 2001; ou seja, a taxa média de crescimento anual foi de apenas 1,7%. Este facto é marcante, nomeadamente ao comparar a performance portuguesa com a espanhola, tendo em conta, por exemplo, o facto de na ITV espanhola os custos de mão-de-obra serem muito mais elevados do que em Portugal. Esta evolução poderá indiciar que o actual modelo de competitividade do sector do vestuário nacional estará esgotado, sendo necessária uma reformulação das estratégias competitivas, de forma a se conseguir aumentar a quota de Portugal no mercado mundial de vestuário. Sucesso Olhando para Espanha, é óbvio que o factor principal para o sucesso do seu sector do vestuário é a existência de três grupos líderes que, atrás de si, arrastam todo um sector. De forma a corroborar esta tese, o Observatório Têxtil do CENESTAP analisou a evolução das vendas no exterior de empresas como a Inditex, Cortefiel e Mango, contrastando-a com a evolução das exportações espanholas de vestuário. Os resultados são surpreendentes: as vendas no exterior dos três grupos líder, incluindo margens comerciais, eram equivalentes, em 1994, a 19,9% do total das exportações espanholas de vestuário. Em 2001, as vendas no exterior da Inditex, Cortefiel e Mango, incluindo margens comerciais da distribuição ascenderam a 2,6 mil milhões de euros, ou seja, 110% das exportações espanholas. Importações crescem Estendendo a análise às importações, verifica-se que, no período entre 1994 e 2001, as importações espanholas de vestuário cresceram 171,6%, com os preços médios a crescerem cerca