Do vestido branco de Janette Scott, em 1954, à marcante passagem de Sophia Loren um ano mais tarde, sem esquecer as poses e acenos memoráveis de nomes como Brigitte Bardot, Vanessa Redgrave, da própria Princesa Diana ou, mais recentemente, de Angelina Jolie, Eva Longoria e Diane Kruger – a alemã foi a grande premiada na categoria de melhor atriz, pela interpretação no filme “In The Fade” –, as quase duas semanas de duração do festival deixam para a posterioridade as imagens mais icónicas da passadeira vermelha, rivalizando em tecidos ricos e quilates com cerimónias como os Óscares.
Nicole Kidman
Naquela que foi a 70.ª edição do festival, terminada na noite de ontem, a Riviera Francesa voltou a receber algumas estrelas de Hollywood, mas também do mundo da música e da moda. Em destaque este ano esteve Nicole Kidman, que contou quatro participações no festival com a segunda temporada de “Top of the Lake”, exibida graças à nova medida do evento que inclui séries consideradas excecionais; “How to Talk to Girls at Parties”, onde interpreta uma executiva extravagante que domina os universos da moda e da música; o filme de Sofia Coppolla sobre a guerra civil e, por fim, “The Killing of a Sacred Deer”, no qual interpreta a mulher de um cirurgião (Colin Farrell) que desenvolve uma relação catastrófica com um adolescente.
A atriz foi ainda eleita a mais bem vestida no decorrer do festival, abrilhantando a passadeira vermelha com criações de Calvin Klein – o favorito dos críticos, um look bailarina de body preto e saia branca de tule –, Dior, Chanel, Michael Kors ou Rodarte.
Gala da amFar
Como é já tradição, a Gala da amFar foi um dos momentos altos do Festival de Cannes. Orquestrada por Carine Roitfeld, a festa no Hotel du Cape-Eden Roc, na cidade de Antibes, teve como tema “Os Anos Dourados de Hollywood” e, particularmente, a figura de Marlene Dietrich. Entre os anfitriões da noite, estavam Nicole Kidman, Jessica Chastain, Vanessa Redgrave, Diane Kruger e Dustin e Lisa Hoffman.
Em carta enviada sobre à temática da edição, Roitfeld orientou os convidados na escolha da indumentária: «Ao longo da sua carreira, [Marlene] Dietrich brilhou não só pelo seu talento raro, mas também pelos seus esforços humanitários durante a II Guerra Mundial, o que lhe rendeu homenagens de vários países», escreveu a ex-editora da Vogue francesa. «Sugiro que todos nós sigamos as sugestões de Dietrich – é crucial lembrar que não importa o quão glamourosa a vida pode ser, sempre devemos ter tempo para fazer o que está certo», concluiu.
Entre as estrelas que melhor responderam ao pedido de Roitfeld figuraram Uma Thurman (em Armani Privé), Coco Rocha (em Jean Paul Gaultier), Anna Cleveland (também em Jean Paul Gaultier), Nicole Kidman (em Chanel) e Bianca Balti (em Dolce & Gabbana). Já a atriz Lindsay Lohan homenageou Grace Kelly, num vestido réplica usado pela atriz em 1954. A versão de Lindsay foi desenvolvida por Christophe Guillarme.
Nos itens leiloados na noite solidária no combate ao VIH estavam um vestido preto de veludo Balmain, uma túnica de renda Chanel, um vestido plissado Dior e um vestido dourado Gucci – uma majestosa coleção leiloada por 3 milhões de euros.
Os vencedores
Depois das passadeiras vermelhas terem feito manchetes, os nomes dos vencedores começaram a suceder os das mais bem vestidas. Pedro Almodóvar, o primeiro espanhol a presidir o júri do festival, quatro homens e quatro mulheres, incluindo os americanos Will Smith e Jessica Chastain, a alemã Maren Ade e o italiano Paolo Sorrentino, isolaram-se do mundo num palácio cuja localização é mantida em segredo para chegarem a um consenso sobre a entrega dos palmarés, depois de terem assistido aos 19 filmes selecionados pelos organizadores do evento.
Se a presença da modelo Sara Sampaio que, mais uma vez, integrou a lista das mais bem vestidas com um vestido Zuhair Murad (ver Os vestidos de Cannes) ou da atriz Maria João Bastos, vestida pelo designer Filipe Faísca, voltaram as atenções para o nosso país, “A Fábrica de Nada”, do realizador Pedro Pinho, que ganhou o Prémio FIPRESCI, da Federação Internacional de Críticos de Cinema, consagrou a presença nacional no certame.
Os jornalistas presentes nesta edição do evento votaram na produção nacional cuja história acompanha um grupo de operários que tenta manter o emprego através de um sistema de autogestão para que a fábrica não feche portas.
É uma «notícia excelente para o cinema português», e é «absolutamente excecional para um país tão pequeno e com tão pouca produção de filmes», revelou o realizador português à agência Lusa depois de saber que tinha vencido o FIPRESCI.
“A Fábrica de Nada” foi assim o segundo filme português a vencer este prémio em Cannes – só Manoel de Oliveira tinha sido premiado nesta categoria em 1997, com o filme “Viagem ao Princípio do Mundo”.
O Grande Prémio do Júri foi entregue a “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo. O filme francês faz uma crónica dos anos da epidemia de VIH, em Paris. «Foi uma aventura coletiva, uma grande história. Nunca somos tão belos e fortes como quando estamos unidos», afirmou o cineasta francês.
A Palma de Ouro distinguiu a longa-metragem “The Square”, do realizador sueco Ruben Östlund. O filme conta a história de um curador de um importante museu de arte contemporânea de Estocolmo.
Do palmarés, destaca-se ainda a vitória de Joaquin Phoenix por “You Were Never Really Here”, que voltou a ganhar depois do triunfo na última edição de Veneza. Sofia Coppola repetiu também a vitória e juntou a Palma ao Leão de Ouro conquistado no certame italiano.
Lista de vencedores
Filme: “The Square”, de Ruben Öslund
Realizador: Sofia Coppola, por “The Beguiled”
Prémio do júri: “Loveless”, de Andrey Zvyagintsev
Grande prémio do júri: “120 Battements par Minute”, de Robin Campillo
Prémio especial do 70.º aniversário de Cannes: Nicole Kidman
Guião: “The Killing of a Sacred Deer”, de Yorgos Lanthimos, e “You Were Really Never Here”, de Lynne Ramsay
Ator: Joaquin Phoenix, por “You Were Never Really Here”
Atriz: Diane Krueger, por “In the Fade”
Curta-metragem: “A Gentle Night”, de Qui Yang
Caméra d’Or: “Jeune Femme”, de Léonor Serraille
Prémio FIPRESCI: “A Fábrica de Nada”