Ao abrir a sua segunda maior loja mundial em Espanha, a Primark, detida pela Associated British Foods, demonstra confiança no futuro em Espanha, depois de 10 anos em que, de forma discreta, criou uma rede de 40 lojas no país.
A abertura desta nova loja, contudo, foi tudo menos discreta, com centenas de consumidores a alinharem-se à porta para garantir básicos de moda a preços baixos num país onde a taxa de desemprego de 22% tem afetado, gravemente, a saúde financeira das famílias.
«Estar na Gran Via e num espaço tão grande é obviamente um passo simbólico para a Primark. É a cereja no topo do bolo para a nova rainha do retalho de vestuário low-cost em Espanha», afirma Carlos Hernandez, consultor de retalho sediado em Madrid.
A nova loja fica numa das principais artérias de Madrid, no número 32, que tem vindo a sofrer obras de renovação ao longo dos anos nos edifícios construídos nos anos 20 e 30. O edifício alberga também os principais rivais da Primark – a Mango, a H&M e a Lefties da Inditex – e, ironicamente, é detido pelo fundador da Inditex, Amancio Ortega, o quarto homem mais rico do mundo.
Cerca de 300 pessoas fizeram fila à porta da loja, onde bailarinos vestidos com t-shirts pretas com o slogan “I love Primark” e com balões entretiveram os consumidores durante a espera.
O edifício tem um pátio protegido por vidro com varandas, onde ecrãs laser promovem a oferta da loja: dezenas de estilos de bolsas e chapéus, stilettos a 11 euros e casacos camel a 28 euros.
Entre os consumidores na loja esteve Victor, um jovem de 25 anos que estudou design mas atualmente está desemprego, vestido com uma t-shirt preta e um lenço palestiniano à volta do pescoço. «Vim pela excitação. A Primark é boa com tendências e as suas t-shirts com logos são ótimas, embora a qualidade dos produtos não seja fantástica. Mas é barato», explicou, acrescentando que «a Primark era popular mesmo antes da crise, porque não há sítio nenhum onde consigamos encontrar jeans por 9 euros».
Em Espanha, que começa agora a emergir de uma profunda recessão, os retalhistas baratos são vistos como atrativos para os consumidores atentos aos preços.
O baixo preço do petróleo e da inflação, o corte de impostos e taxas de juro reduzidas estão a ajudar a colocar dinheiro nos bolsos dos consumidores, e as vendas a retalho estão a recuperar. Mas as expectativas continuam difíceis para muitos. «É novamente um bom momento para a expansão, sobretudo no segmento de low-cost, já que os salários são, e vão continuar a ser, baixos nos próximos anos e o crescimento vai surgir particularmente destes segmentos de retalho baixo e médio-baixo», acredita Carlos Hernandez.
A procura por moda mais barata também colocou alguma pressão sobre a Inditex, que detém, entre outras, as marcas Zara, Bershka e Massimo Dutti e está a renovar a Lefties, a sua marca mais barata, que alegadamente vende o resto dos stocks da Zara, embora as roupas tenham a marca Lefties.
Mas, no geral, estima a analista da Bernstein, Jamie Merriman, a quota de 6% no mercado espanhol da Primark, afetou mais os players pequenos do que a Inditex. «Espanha é muito interessante, tendo em conta que é a casa da Inditex, mas até agora tem havido espaço para as duas retalhistas e estamos a assistir a uma continuada consolidação. Há um número surpreendente de pequenos retalhistas que estão a perder», sustenta.
«Esta abertura reflete o crescimento na moda de massas, com a Primark, a Inditex, a Mango e a H&M a terem bons resultados em Espanha… Porquê? Porque o turismo está a ter bons resultados», refere, por seu lado, Robert Travers, partner na imobiliária Cushman & Wakefield.
Dando sinais de recuperação, a confiança dos consumidores espanhóis subiu 17% num ano, de acordo com o Centro de Investigação Sociológica de Espanha, com a indústria do turismo a registar igualmente bons resultados devido à desvalorização do euro e preocupações com a segurança noutros destinos turísticos.