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Produção de algodão recupera

A produção de algodão deverá recuperar em 2021/2022, depois de, segundo o ICAC, ter registado, em 2020/2021, os níveis mais baixos nas últimas quatro estações. As alterações climáticas, contudo, estão a pôr em risco metade das regiões de cultivo da fibra num prazo tão curto como 2040.

[©Forum for the Future]

Os dados do Cotton This Month de julho do International Cotton Advisory Committee (ICAC) apontam para que, depois de uma queda de 7% em 2020/2021, a produção regresse aos níveis pré-pandémicos no próximo ano. «Ainda melhor, o consumo mundial recuperou face a 2019/2020 com um aumento de 12,5%, para 25,59 milhões de toneladas, em 2020/2021 e deverá melhorar ainda mais, para 25,8 milhões de toneladas, na próxima época», afirma o ICAC em comunicado.

A produção mais baixa em combinação com uma maior procura deverá promover uma descida dos stocks finais pela primeira vez em quatro anos, para 20,96 milhões de toneladas, um nível semelhante ao registado em 2015/2016. O ICAC avança que os stocks finais devem cair mais em 2021/2022, para 20,77 milhões de toneladas, já que a utilização da fibra pelas fiações deverá exceder a produção.

O comércio internacional da fibra está igualmente a retomar, depois do abrandamento em 2019/2020, acompanhando a recuperação da economia mundial. Em 2020/2021, as exportações de algodão somaram mais 11,75% face à época anterior e devem manter-se nesse nível em 2021/2022, refere o ICAC.

A atual projeção de preço para o final da época 2021/2022 do A Index é de 0,89 dólares por libra (cerca de 1,67 euros por quilo).

O risco das alterações climáticas

As projeções do ICAC surgem dias depois da iniciativa Cotton 2040 ter publicado os resultados de um estudo sobre os riscos climáticos para a produção mundial de algodão, realizado com a especialista em avaliação de riscos do clima Acclimatise, que revela que as mudanças climáticas podem expor metade das regiões de cultivo de algodão a riscos elevados devido a aumento da temperatura, mudança nos padrões da chuva e eventos climáticos extremos.

Tendo por base o pior dos cenários, o estudo “Adapting to climate change – physical risk assessment for global cotton production” salienta que todas as regiões vão ser expostas a um aumento do risco de pelo menos um perigo climático até 2040, sendo que os seis principais países produtores de algodão – Índia, EUA, China, Brasil, Paquistão e Turquia – estão expostos a um risco maior, sobretudo de fogos florestais, seca e precipitação extrema.

Não obstante, há duas regiões que se destacam com o maior risco de todas: o noroeste africano, incluindo o norte do Sudão e o Egito, e o oeste e sul da Ásia.

[©Pixabay/David Mark]
O estudo indica que 40% das regiões de cultivo de algodão deverão sentir uma redução na época de cultivo devido ao aumento das temperaturas além das ideais para o algodão, que 60% do algodão estará sujeito a um aumento do risco provocado por ventos fortes, 50% estará exposto a risco de seca e até 10% a risco de tempestades.

A escassez de água e a precipitação extrema irão apresentar um risco acrescido para as regiões de cultivo de algodão mais produtivas. «Isto adicionará uma pressão suplementar a uma fibra já sob escrutínio pela sua pegada de água», aponta o estudo.

Há ainda o risco acrescido de inundações fluviais em 20% das regiões de cultivo e de deslizamento de terras em 30%.

«Esta análise é uma chamada de atenção para a indústria de algodão, da qual o sector do vestuário é atualmente muito dependente. Para criar resiliência face a um futuro altamente disruptivo e incerto, as mudanças generalizadas para formas sustentáveis de produção de algodão têm de ser impulsionadas por uma ação ambiciosa e alinhada com vista a reduzir as emissões de carbono, ao mesmo tempo que prepara a indústria para operar num mundo muito distinto», considera Sally Uren, diretora executiva do Forum for the Future, que promove a iniciativa Cotton 2040.

De acordo com os dados avançados em comunicado, o mercado de algodão está avaliado em 12 mil milhões de dólares e representa 31% de todas as matérias-primas usadas no mercado têxtil mundial.