O pânico generalizado de diversos retalhistas, fomentado pela desaceleração nas vendas de vestuÁrio (ver Queda no retalho esmaga produtores – Parte 1), estÁ a originar graves problemas na cadeia de fornecimento, afectando principalmente as empresas a montante. Face a esta situação, diversas associações comerciais do sector oferecem uma explicação simples: os EUA estão a comprar menos, por isso as fÁbricas estão a vender menos. No entanto, esta explicação simples estÁ errada. Nenhum país fornecedor viu as suas vendas para os EUA registarem um melhor desempenho este ano do que o Vietname, cujas exportações estão 20% acima das do ano passado. Mas a Tae Kyung Vina, em Saigão, tem sido alvo de greves sucessivas desde Junho devido a salÁrios em atraso e, tal como muitos outros fabricantes em Saigão, estÁ sob investigação por falta de pagamento das contribuições do seguro dos empregados. Mesmo com as vendas globais do Vietname em alta, os clientes estão a cancelar encomendas. As fÁbricas que apenas conheceram o “boom” nos anos pós-2002, estão a descobrir da maneira mais difícil quantas desculpas legais pode um revendedor encontrar para evitar aceitar peças encomendadas hÁ meses; e quão pouco valem as peças de vestuÁrio que são canceladas. Acatar alguns dos conselhos oferecidos às fÁbricas acabou, muitas vezes, por revelar-se a pior coisa que um fabricante pode fazer. Os “peritos” têm dito às empresas para se deslocarem dos contratos de corte-e-confecção (caso em que o cliente fornece as matérias-primas) para serviço completo (em que a fÁbrica compra o tecido e os acessórios). Mas possuir matérias-primas compradas expressamente para um cliente pode arruinar uma fÁbrica se o cliente descobrir uma forma de anular a encomenda, ou uma desculpa para não a pagar. As desculpas para o cancelamento não têm sido difíceis de encontrar em algumas zonas do subcontinente indiano, onde as falhas de energia arruinaram a produção, especialmente no sul da índia e no Paquistão. As fÁbricas maisprecavidas têm frequentemente um seguro contra falhas de energia, usando geradores de emergência. Mas quando o governo do Paquistão cancelou os subsídios ao combustível, o custo desta prudência subiu em flecha com o aumento dos preços do petróleo. Temos ouvido falar durante anos da inevitÁvel ascensão da China no sentido do domínio mundial da indústria têxtil e de vestuÁrio. Uma razão para que muitos indianos, por exemplo, acreditem que as empresas chinesas são naturalmente favorecidas é que estas tendem a ser maiores. O que até agora tem apenas garantido que os maiores colapsos de fornecedores (como no caso da China Printing & Dyeing e da Tack Fat) tenham ocorrido na China. A China Printing & Dyeing teve as contas auditadas apenas alguns meses antes do colapso (de acordo com normas aprovadas pela Bolsa de Valores de Singapura), sendo a auditoria realizada por uma grande empresa ocidental de contabilidade. As contas mostraram que a empresa era uma preocupação crescente. Os principais accionistas desapareceram, com a empresa a dever mais de 300 milhões de dólares. O investimento na produtividade também não se revelou uma solução viÁvel. Consideremos que a empresa “A” é de mão-de-obra intensiva e que a empresa “B” tem investido na mais recente tecnologia. Se as encomendas caírem 50% qual das duas vai arruinar-se? A que estÁ empenhada em pagar juros sobre os empréstimos que contraiu para comprar o equipamento e vê os seus lucros caírem à medida que os efeitos da depreciação são sentidos. Poderia parecer visionÁrio no ano passado comprar todo aquele equipamento. PoderÁ ainda parecer actualmente. Mas revelou-se na realidade uma péssima opção. As fÁbricas em todo o mundo estão a ser atingidas como resultado das pequenas e prudentes medidas que os retalhistas ocidentais estão a tomar para lidar com uma pequena desaceleração nas vendas, ou um ligeiro crescimento na prudência dos banqueiros. Na terceira parte deste artigo vamos analisar os efeitos previsíveis e os possíveis cenÁrios para o médio prazo.