As marcas de vestuário da atualidade têm de ter em consideração o aumento do maximalismo, a mudança no papel daquilo que define um criador de conteúdo autêntico, o complexo com a aparência e a necessidade de novas áreas de investimento, assim como muitas outras tendências que vão ecoar na vida dos consumidores, segundo o Sourcing Journal, e moldar o comércio em 2021.
Maximalismo em ascensão
Como resultado direto da crise pandémica, os compradores têm agora padrões mais elevados para tudo, desde a moda aos alimentos, sugere o relatório “10 Trends that Will Shape The Future of Commerce.” Tendo em conta que os consumidores estão mais em casa desde março do ano passado, tornar os espaços em que vivem mais confortáveis e agradáveis é uma das prioridades, de acordo com a Future Commerce, que elaborou a análise para entender os desenvolvimentos no futuro do retalho bem como as mudanças culturais e a modernização da tecnologia.
O relatório, realizado em colaboração com a Method + Mode, abrange 1.093 consumidores dos EUA, entre novembro a janeiro, e descobriu que 52% dos compradores sentem que estar no próprio ambiente com as suas coisas os deixa mais felizes, enquanto 60% dizem sentir-se mais seguros e com a sensação de controlo. Mais de um quinto, o equivalente a 22%, considera-se como como «colecionador» com os livros a darem vida aos fundos do Zoom.
Compras como entretenimento
Desde sempre que comprar é também usado como uma terapia e, na realidade atual, mais do que nunca, esta ação vai além do entretenimento e atua ainda como uma diversão que anima o dia dos consumidores à distância de um clique. O relatório, que inclui o feedback da Future Commerce Expert Network, uma empresa especialista em retalho, evidencia que 51% dos compradores sentem a falta de ir às compras como uma forma de socialização e 25% recorrem, inclusive, a canais de compras como o QVC e o HSN.
«Durante o Covid-19 abrimos linhas telefónicas. Sabíamos que ia haver uma grande mudança demográfica de mulheres que nunca tinham feito compras online antes e que provavelmente se sentiriam mais à vontade para falar com alguém do que se clicassem só no site», explica Melanie Travis, CEO da Andie Swim. «Essas mulheres passavam, nalguns casos, mais de uma hora ao telefone, a conversar com os nossos especialistas. Descobrimos que as pessoas queriam mesmo uma conexão humana naquela altura e eles acabaram por se tornar basicamente terapeutas para as pessoas», acrescenta.
Arte da promoção
A análise indica que 40% dos compradores compraram algo promovido por alguém que seguem nas redes socias e que não conhecem pessoalmente, ainda que apenas 30% dos inquiridos estejam a seguir influenciadores digitais de grande dimensão, o que sugere que, por exemplo, o youtuber americano de 22 anos MrBeast é visto como uma influência mais credível do que alguém com o alcance de Kylie Jenner.
«Os criadores de conteúdo são tão importantes para a criação de conhecimento da marca quanto os influenciadores de celebridades tradicionais», refere o relatório, que sublinha que os criadores de conteúdo são os artistas da próxima geração, uma vez que comunicam a marca aos consumidores de uma forma «única», que cativa os consumidores.
Durabilidade
O crescimento de modelos de negócios com produtos em segunda-mão, como a revenda e a economia circular, é a prova de que os consumidores preferem cada vez mais produtos com uma maior durabilidade em prol do ambiente. A análise que desvenda as principais tendências para o comércio em 2021 destaca a linha Worn Wear da Patagonia, que visa reaproveitar roupas recicladas para produzir peças novas, e ainda o marketplace de artigos em segunda -mão da Levi’s como dois exemplos que espelham a evolução dos compradores na vertente sustentável, já que 81% dos inquiridos prometem dar uma segunda vida aos produtos que possuem.
O relatório defende também que a revenda e o luxo podem coexistir porque um conceito não contradiz o outro.
O complexo da aparência digital
O uso intrínseco no quotidiano das redes sociais fez com que os consumidores se tornassem mais cientes dos recursos que têm disponíveis. No reverso da moeda, ou seja, no lado de quem vende, os profissionais de marketing conseguem ter mais dados sobre o próprio cliente e aquilo que ele quer ver ou necessita, o que confere às marcas uma oportunidade mais exata de corresponder às expectativas do consumidor.
Disparidades sociais
A recuperação económica da pandemia vai criar ainda mais diferenças na sociedade e fomentar a disparidade entre o luxo e as experiências de comercialização em massa. A separação entre o conceito de luxo e o que está mais acessível não vai deixar espaço para uma definição intermédia do que é considerado premium, o que vai mesmo criar uma divisão na classe média, aponta o estudo.
«O que está a acontecer é que estamos a ver o aparecimento de dois tipos diferentes de classe média. Ainda não está totalmente formado, mas vemos a classe média a encolher e isso talvez aconteça por se estar a dividir», revela Brian Lange, cofundador da Future Commerce.
Perante esta situação, mercados como o Poshmark e Etsy têm um caminho aberto para novas oportunidades, assim como pequenas empresas que podem agora prosperar. Segundo os dados da Future Commerce, ser uma «marca confiável» é duas vezes mais importante do que ter o conceito de luxo associado.
Causas e imparcialidade
Num clima político agitado, as marcas têm mesmo de assumir uma posição, assegurando os valores pelos quais se regem, já que continuarem a ser apolíticas não serve mais como uma opção.
Iniciativas como a 15 Percent Pledge, que visa a inclusão de negócios com proprietários de cor, conquistaram o apoio de retalhistas como a Macy’s, a Rent the Runway e a Sephora.
Com uma mudança na administração dos EUA, o Future Commerce prevê que o tema da imparcialidade volte a estar na ribalta, com 57% dos consumidores a assumirem o Facebook, a Amazon e a Google como serviços essências neste momento. Além disso, os millennials esperam que quando o governo não tome medidas perante estas problemáticas, sejam as empresas a agir.
Propriedade fracionada
53% dos consumidores pretendem investir em títulos não tradicionais em 2021. Vinhos, luxo e produtos de marcas são alguns dos investimentos que constam na lista dos consumidores. O aumento dos investimentos em bitcoin é um dos maiores exemplos que mostra que os consumidores querem deter pequenas partes de uma vantagem essencial ou da moeda, uma tendência cada vez mais ampla e abrangente na sociedade.
Capitalismo e bens comuns
A par do declínio no modelo tradicional de compras, o relatório prevê um futuro do qual faz parte a «necessidade recém-descoberta de novos bens comuns». 75% dos consumidores, contudo, preferem interagir com pessoas em espaços ao ar livre do que nos centros comerciais. A privatização dos espaços comuns, quer físicos ou digitais, deixou as pessoas sem espaço para expressar opiniões e conversar sobre ideias sem medo pelo que, esta problemática, juntamente com o isolamento físico, impulsionou o crescimento das interações privadas através de canais digitais.
Do físico para o digital
Com a diminuição dos modelos de negócio tradicionais, as retalhistas devem projetar um futuro mais digital, do qual fazem parte os videojogos como o icónico Fortnite, que podem inspirar a mudança das experiências físicas no retalho para o mundo virtual. O estudo sugere que a adaptação a este tipo de métodos poderá ser muito benéfica no pós-pandemia pelo facto dos consumidores continuarem a ter receio e manterem o hábito de não se deslocarem aos espaços que não sejam de bens essenciais.