A capital russa, mundialmente famosa pelos seus restaurantes com preços exorbitantes, intenso trânsito e paixão pelo excesso está a sofrer um severo golpe à medida que a recessão atinge o quarto maior mercado de luxo do mundo. Os analistas consideram que os lucros deste ano da indústria de vestuário e acessórios de luxo do país, serão reduzidos em cerca de um terço. A cidade de Moscovo é responsável por comprar mais de 80% do luxo na Rússia, cujo valor total está estimado entre os 4,5 e os 9 mil milhões de dólares. A súbita sobriedade do mercado russo está agora muito distante da visita de Donatella Versace e Tom Ford há um ano atrás, altura em que divulgaram os seus planos de expansão na Rússia para uma multidão entusiasmada. Actualmente, já não são as grandes marcas de luxo que contestam o espaço da capital. Rolf Eriksen, director executivo da Hennes & Mauritz (H&M), a retalhista sueca conhecida pelos seus preços baixos, pretende ocupar precisamente o mesmo espaço comercial que Alexander McQueen ocupou durante 18 meses e que acabou por encerrar recentemente após saldar o seu stock com uma rebaixa de 70%. O russo Crocus Group, que possui um centro comercial rodeado por palmeiras, onde são vendidos diamantes e automóveis de luxo, para além de deter cerca de 100 luxuosas boutiques na Rússia e no Azerbeijão, também está a sentir a quebra do mercado. Em Moscovo, começamos a sentir o abrandamento e devo dizer que é proeminente», afirma o director comercial Agalarov Emin. No geral, as minhas expectativas são muito pessimistas. Por isso, não vou assustar ninguém com os números, mas acredite que no primeiro semestre de 2009 nós [retalhistas] vamos todos sofrer». A Stoleshnikov Pereulok, paralelo moscovita à Avenida da Liberdade em Lisboa, está inundada com os rumores de encerramentos impulsionados pela crise no sector. Uma única folha de papel branco, presa com fita-cola, adorna as vitrinas da única loja da Vivienne Westwood na Rússia, informando que está fechada para “obras”. A sua porta-voz, sedeada em Londres, disse que o agente russo tinha efectivamente abandonado o retalho. A empresa russa Aizel, que gere um grupo de lojas em regime de franchising, incluindo os designers norte-americanos Diane von Furstenberg e Marc Jacobs, bem como a marca britânica Agent Provocateur, comunicou que as vendas nas suas lojas caíram até 10%. Nos eventos de moda, o panorama repete-se. Os organizadores da Russian Fashion Week (que decorreu entre 28 de Março e 4 de Abril), diminuíram em 20% o número de colecções relativamente à edição de Outubro, devido ao menor número de participantes. Este é um efeito de cascata, com Paris a acolher menos “jactos” particulares russos durante a última semana da moda na capital francesa. Decidimos… concentrar-nos na qualidade. Face à crise, é necessário colocar tudo o que temos na produção», sustenta Olga Sorokina, directora criativa da Ifre, marca russa de luxo. O anterior modelo de promoção implicava uma mistura de apresentações em passerelle na capital francesa e em Moscovo. Mas, este ano, a Ifre apresentou a sua colecção de bolsas em pele de pitão e os seus casacos de peles num modesto showroom em Paris. Conforme referiu o presidente da Emanuel Ungaro, Mounir Moufarrige: os clientes russos estão a comprar menos». Na segunda parte deste artigo, será analisada a dependência do mercado aos preços dos bens energéticos, bem como alguns exemplos de marcas que continuam a crescer.