Com uma capacidade de produção de 45 toneladas/ano de fibra acrílica, a que junta a produção de precursores para fibra de carbono, a unidade portuguesa do SGL Group está a apostar no desenvolvimento de novas propriedades para a fibra acrílica, que exporta na quase totalidade para mercados como a China. «Queremos encontrar novas aplicações para a fibra acrílica que tragam valor acrescentado», afirmou Bruno Pereira, diretor de mercado e produto de fibras acrílicas na SGL, durante a sua intervenção na iTechStyle Summit.
Atualmente, o mercado conta já com fibras acrílicas retardantes de chama, incluindo uma produzida pela própria SGL. «Qualquer fibra é considerada retardante de chama se tiver um LOI (Limiting Oxygen Index) superior a 25%. Esta nossa fibra precisa de 49% de concentração de oxigénio para começar a arder. Tem excelente resistência ao fogo, não arde, não funde e tem enorme resistência também à faísca e ao contacto com metal», enumerou Bruno Pereira.
A fibra, que é produzida por tratamento térmico, num forno entre 250 °C e 300 °C durante 60 a 120 minutos, e usada em aplicações como fatos de bombeiro e assentos de aviões e comboios, não pode, contudo, ser tingida. «Só é possível oferecer ao mercado preto», referiu o diretor de mercado e produto de fibras acrílicas.
A SGL decidiu então procurar novas aplicações para a fibra acrílica. O projeto, iniciado em 2017 e com fim previsto para o final de junho deste ano, começou por testar a utilização da fibra acrílica em cabeleiras. «É um dos grandes nichos da fibra retardante de chama», justificou Bruno Pereira. A empresa foi capaz de desenvolver uma fibra que foi aplicada na produção da trança da Rapunzel, com mais de 30 metros, para um espetáculo de Filipe La Féria. «Com a cabeleira feita, o próximo passo era desenvolver a fibra retardante de chama. Mas o processo não é fácil», reconheceu.
Linhas de investigação
Numa primeira linha de investigação, a empresa avançou pela mistura de fibras híbridas, que resultou num produto com um LOI de 25% à escala laboratorial e de 20% à escala piloto. «Tem todas as possibilidades de ser promissor a introdução de monómeros no polímero. No entanto, ainda não conseguimos fazer à escala industrial», admitiu.
Uma segunda via introduziu aditivos no xarope antes da extrusão, mas com menos sucesso. «Conseguimos um LOI na fibra de 30% mas ainda não conseguimos estabilizar o processo para produzir à escala piloto», ressalvou Bruno Pereira. Através da polimerização da fibra, a terceira via seguida, a empresa não conseguiu praticamente resultados, não tendo ainda sequer conseguido fazer a extrusão da fibra.
Já com a modificação química da fibra, as possibilidades são promissoras. Há, contudo, a necessidade de refinar o processo. Inicialmente, a SGL usou, a conselho dos fornecedores, a combinação de dois aditivos, mas está a fazer estudos para usar apenas um aditivo com resultados melhores. «Obtivemos um LOI de 44% à escala laboratorial e neste momento 29% à escala piloto», revelou o diretor de mercado e produto de fibras acrílicas, acrescentando que «estão marcados testes para nível industrial no próximo mês e estamos bastante esperançados que vamos, só com um aditivo, conseguir obter o resultado que tanto esperávamos».