O início de 2019 já previa que este seria tema obrigatório para todos os players da ITV. Entre o aquecimento global, as alterações climáticas, a poluição e o desperdício, marcas, empresas e governos começaram a tomar medidas concretas e drásticas para promover a transformação da indústria e reduzir o seu impacto ambiental, que culminou com a assinatura do pacto de sustentabilidade, por 32 líderes de moda mundiais. O movimento coletivo materializou-se numa guerra aberta ao plástico, em técnicas de remoção de corantes, medidas para poupar água e energia e várias estratégias e inovações ao nível da reciclagem e da reutilização de materiais.

A consciencialização para a redução do impacto ambiental resultou numa oportunidade de mercado para que os modelos de negócio sustentáveis começassem a crescer. É o caso do upcycling, adotado por marcas como Troficolor, Rita Noro, Möm(e), da moda de aluguer e vestuário em segunda mão, aplicado na Marques’Almeida, e da circularidade, marcada pela aposta da JF Almeida, no fio 360 e pela parceria entre a Adidas e a designer Stella McCartney.

A par deste movimento, esteve também a procura por materiais alternativos mais sustentáveis que pudessem substituir o algodão convencional e o plástico. A grande maioria das empresas investiu no algodão orgânico, como aconteceu com a Mundotêxtil, Wedoble e Cherry Papaya e nas matérias-primas naturais, onde se inserem a Peter Jo Kids e a Marita Moreno.
A indústria portuguesa, de resto, tem-se mostrado na vanguarda da sustentabilidade ambiental e social, como provam empresas como a Riopele, Calvelex, Paulo de Oliveira, Polopique e Twintex, que se juntaram em Paris para promover a indústria portuguesa como uma referência nesta área. Acatel, Têxtil de Serzedelo, Crafil, RDD, Pizarro, Têxtil António Falcão, Tintex, Lameirinho, Moretextile e Adalberto são outros exemplos de empresas que têm investido para serem mais “verdes”.

Ao nível da inovação, este tema refletiu-se na exploração de enzimas para decompor o plástico, na separação de fibras de misturas algodão/poliéster para reciclar e no desenvolvimento da tecnologia blockchain.
Mercado em mutação
A perspetiva ecológica parece ter concentrado grande parte dos esforços das empresas internacionais, em detrimento da responsabilidade social, que este ano registou uma estagnação do combate ao trabalho infantil e a perpetuação das condições laborais precárias em países de sourcing como a Turquia, Bangladesh e Camboja.
O fim da década foi também perturbado por uma guerra comercial entre os EUA e a China, que provocou a desaceleração do crescimento da economia mundial e se refletiu num pessimismo generalizado entre os empresários da ITV norte-americana. A isto se somam os protesto sociais que agravaram a perda de clientes de Hong Kong – que parece ter agravado a quebra contínua da China, nomeadamente no sector do luxo – e a crescente incerteza que ronda o Brexit.
A perda da posição privilegiada da China enquanto destino de sourcing deu oportunidade aos novos países emergentes para se começarem a destacar no mercado internacional, entre os quais está a região de África Oriental – nomeadamente Ruanda – Marrocos e Vietname.

Portugal no online
Movidos por uma geração de jovens consumidores onde o digital é sua principal forma de comunicação, as marcas e designers portugueses começaram a seguir-lhes a peugada, apostando no mercado online, tendência transversal ao resto do mundo. O designer Hugo Costa já anunciou a sua intenção de abandonar totalmente o retalho físico e as marcas Paula Borges, Knot, Dr. Kid e Cotton Brothers começaram a dar os primeiros passos nas plataformas digitais – com a Gladz na vanguarda a estrear o mundo das apps.

Este é o prenúncio de um futuro em que se prevê que o online irá superar as lojas físicas, potenciado pelas plataformas Amazon, Farfetch, a Springkode, que este ano começou a integrar também vestuário de homem e, a mais recente, Dott.
2019 foi também o ano da valorização do “made in Portugal”, como forma de disseminar a cultura e o talento naconais , promovidos pela Just Lovely, Qvinto e The Perfect Stampa. Este esforço de comunicação dirigiu-se essencialmente ao mercado de exportação dos EUA, na mira da B’Lovely, Scusi, Cristina Barros, Nüwa, Perff Studio e Temasa.
Deporto e tecnologia
No meio dos desafios macroeconómicos, o sector do desporto tem vindo a comandar as preferências dos consumidores – depois da estreia anunciada da Sportswear Pro em Madrid e do tema ter sido destacado na Première Vision Paris de setembro último – seguido pelo streetwear. Nas feiras, a grande novidade vem da parte da Gallery, que acrescentou o “Fashion” ao nome, para que o evento seja reconhecido como irmão da Gallery Shoes.

Ao nível da tecnologia, 2019 foi o ano do investimento em sustentabilidade e na indústria 4.0, que valeu à Inovafil o galardão atribuído no 9º Encontro PME Inovação Cotec. Nesta área, realçam-se ainda a Rodome pela fibra reciclada de poliéster para enchimentos e a A. Sampaio pelo investimento em energia solar. Além destes temas, evidenciam-se os progressos na saúde, na impressão 3D – tomando-se o exemplo da Orfama – nos têxteis inteligentes e funcionais – onde se insere a Scoop com a malha Luminton, nomeada para os prémios iTechstyle – e no futuro.
É com este ano recheado de notícias que a equipa do Portugal Têxtil/Jornal Têxtil encerra 2019, desejando que o início desta década marque um novo começo para bons negócios, que poderá acompanhar com a newsletter diária do Portugal Têxtil e mediante a assinatura do Jornal Têxtil.