A pobreza da Birmânia, causada por 15 anos de governo militar, deixou o país numa situação difícil, apesar do seu enorme potencial para ser um dos polos do sourcing mundial (ver Um país de oportunidades Parte 1). Um dos seus trunfos os salários baixos está a tornar-se também um ponto fraco, já que os trabalhadores parecem prontos a reivindicar aumentos de salários e melhores condições de vida. Agitação dos trabalhadores Para a indústria de vestuário, será difícil encontrar um equilíbrio entre beneficiar dos custos laborais muito baixos do país e manter os trabalhadores satisfeitos. Os operadores de máquinas de costura em Yangon ganham agora 1.100 kyat por dia (cerca de um euro por dia), o que dá um salário mensal de cerca de 26 euros. Segundo o investigador da Jetro, H Kudo, os salários para os trabalhadores da indústria de vestuário em agosto de 2012 em Ho Chi Minh City, no Vietname, eram o dobro do dos trabalhadores em Yangon. Os trabalhadores sentem, aparentemente, que chegou a altura de melhorar o seu salário e condições de trabalho. Segundo o The Myanmar Times, os trabalhadores de cerca de 70 fábricas de vestuário fizeram greve entre 1 de maio e 30 de julho de 2012 para exigir salários mais elevados e melhores condições de trabalho. Uma lei aprovada em outubro de 2011 permite aos trabalhadores fazer greve e formar sindicatos. Apesar de iniciativas como o centro de formação criado pela Associação de Produtos de Vestuário de Myanmar e da escola técnica fundada pela Jetro/Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, encontrar um trabalhador qualificado é um problema em Yangon, o centro da indústria de vestuário da Birmânia. Os produtores queixam-se que os trabalhadores, assim que adquirem competências, muitas vezes despedem-se e vão para fábricas nas fronteiras com a China e a Tailândia em busca de melhores salários. Preferências comerciais As formalidades da abolição de sanções económicas contra a Birmânia pela UE, EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia podem também demorar algum tempo. Contudo, é razoável esperar que a Birmânia beneficie eventualmente das mesmas preferências comerciais de países como o Laos, Camboja e Bangladesh. Para além da UE e dos países já mencionados, outros países que concederam benefícios do GSP à Birmânia incluem o Japão, a Suíça e a Turquia. A Birmânia beneficia também das preferências de taxas da Coreia do Sul (tratamento preferencial para países em desenvolvimento) e Índia (preferência sem impostos). Mas continua a ser um handicap competitivo que a Birmânia tenha estado fora das redes mundiais de sourcing durante quase uma década (2003-2012). Investimento estrangeiro A enchente de reformas introduzidas pelo governo birmanês em 2011 e 2012 teve um duplo prémio do mundo exterior: a suspensão das sanções e uma corrida de investidores estrangeiros. Contudo, apesar do interesse de empresas estrangeiras, poucas decisões de investimento prosseguiram antes da introdução da nova Lei de Investimento Estrangeiro de 1 de novembro de 2012. Os principais destaques desta lei é a oportunidade dos investidores estrangeiros arrendarem terras por um período de 50 anos, uma garantia contra a nacionalização, isenção de impostos durante cinco anos e propriedade até 100%. Também dá poder à Comissão de Investimento de Myanmar, que pode decidir não alargar todos os benefícios a todos os investidores. Embora os pequenos produtores locais de vestuário tenham dificuldades para melhorar a sua eficiência a um nível onde possam competir efetivamente com empresas de capital estrangeiro, os produtores locais médios e grandes podem beneficiar imenso de joint-ventures com empresas estrangeiras. Segundo o Diretório Têxtil Vestuário de Myanmar para 2012, as três maiores empresas têm investimento direto estrangeiro da Coreia: a Myanstar Garment com 2.000 máquinas, a Myanmar Hae Wae (1.900) e a joint-venture Myanmar Daewoo International (1.500). Mas nem todas as grandes empresas estão incluídas no Diretório, como a produtora de outerwear Poscelin Co Ltd, que está sediada em Hong Kong e emprega mais de 2.000 trabalhadores na Birmânia. Para além de nove empresas com mais de mil máquinas, há ainda 25 empresas de confeção médias, com 500 a mil máquinas. Três grupos japoneses (Mitsubishi, Marubeni e Sumitomo) chegaram a acordo com o governo para, em conjunto, criarem uma zona económica especial, Thilawa, no Porto de Thilawa em Yangon, que opera 80% das importações e exportações do país. Outro projeto ambicioso de Zona Económica Especial está em construção na cidade do sul de Dawei, com um porto de águas profundas. Já foi lançada uma oferta aberta a investimento num terceiro projeto de Zona Económica Especial, em Kyaukphyu, na região ocidental de Rakhine.