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UM veste “Morangos com Açúcar”

O "enfant terrible" da Pop Art, Andy Wahrol, sustentava que "In the future everyone will be famous for fifteen minutes" (No futuro, toda a gente será célebre durante quinze minutos). Para os jovens estudantes do segundo ano da recém-estreada Licenciatura de Design e Marketing de Moda (LDMM) da Universidade do Minho o futuro é já hoje, uma vez que, com muito esforço e alguma inspiração, conquistaram os seus minutos de fama ao criarem uma original colecção para as personagens da popular série "Morangos com Açúcar" vestirem num desfile em prol do vestuário reciclado. No seu esforço associaram-se, também, alguns dos alunos do curso de Mestrado em Design e Marketing, que não resistiram ao desafio de experimentar um exercício exigente de costume design (design de figurinos para espectáculo). Mais do que um exercício escolar, tratou-se sobretudo de um sprint em contra-relógio, já que entre o convite da NBP, alargado a 5 outras escolas, e a apresentação das propostas, os jovens estudantes tiveram apenas 3 dias, incluindo um fim-de-semana. No espaço de 72 horas, a vida lá fora parou para estudantes e docentes da LDMM. Mas, no final, a recompensa esteve à altura das expectativas e dos esforços, com a vitória do "concurso". E no dia 14 de Dezembro, ninguém desgrudou os olhos do pequeno ecrã para ver o desfile onde, excepcionalmente, as estrelas foram as criações têxteis – 5 temas (Energias Alternativas, Liberdade e Movimento, Mecânica, Mar e Campo) para um total de 14 figurinos destinados ao mesmo número de "Moranguitos". Nelson Oliveira, Ana Aguiar, José Lima, Daniela Lopes e Joana Fernandes contaram, ao Jornal Têxtil, a crónica de uma história que vai para além da teia figurativa e da trama narrativa. Para estes jovens, as teias e tramas principais foram mesmo de têxteis. Jornal Têxtil (JT) – Como receberam a notícia do convite da NBP para desenharem uma colecção de vestuário reciclado para as personagens dos "Morangos com Açúcar"?Nelson Oliveira (NO) – Foi uma grande surpresa para todos nós. Estávamos numa aula, e a notícia teve o efeito de um choque.Ana Aguiar (AA) – Lembro-me de achar que era um convite aliciante, mas que exigiria grandes esforços. No entanto, como se tratava de um trabalho de grupo, pensei que estaríamos à altura do desafio.Joana Fernandes (JF) – Nem dormi. Passei a noite a trocar ideias com a minha colega de quarto, que integrava o mesmo grupo de Mecânica. JT – Como se processou a passagem da ideia à prática?José Lima (JL) – Começámos por nos dividirmos em 5 grupos – um por cada tema – e distribuirmos os personagens.AA – Nesse mesmo dia iniciámos a recolha de material reciclado, não só para o grupo em que estávamos inseridos mas para todos os grupos. Houve um espírito de cooperação excepcional não só entre alunos, mas também por parte dos docentes. JF – Percorremos sucatas e laboratórios em busca de material de mecânica. Aliás, participar num tema que à partida parecia o mais difícil foi um desafio acrescido. AA – Depois, efectuámos uma análise de cada personagem, e qual se identificava com cada tema.NO – O nosso grupo levou a cabo um verdadeiro "brain storming" à volta dos personagens e das Energias Alternativas. Em seguida, passamos as ideias para figurinos.JL – Independentemente do tema de cada grupo, o processo criativo foi similar. Começámos por estudar os personagens em função de cada tema e, depois, reunir os materiais mais adequados para cada grupo temático. No nosso caso, como este tinha uma natureza desportiva – Liberdade e Movimento – utilizámos tecidos leves para os calções, mochilas de câmaras-de-ar…Daniela Lopes (DL) – à partida tínhamos um vasto conjunto de ideias mais ou menos disparatadas, que na prática resultaram bastante bem. Temos que destacar também o apoio recebido por parte dos mestrandos, que foram os nossos guias no processo de fabricação dos figurinos. JT – Utilizaram uma vasta panóplia de materiais que foi bem mais além dos têxteis.AA – Nas Energias Alternativas usámos ráfia, sacos de papel, fio de cobre, redes…NO – …e materiais orgânicos como folhas de árvore.JL – No tema Liberdade e Movimento, utilizámos plásticos de protecção, câmaras-de-ar de bicicleta, rede de sinalização de obras, cones de linhas, restos de carpetes, embalagens de tabaco.JF – Nos figurinos da Mecânica aplicámos peças de motor, câmaras-de-ar, porcas, anilhas, parafusos, pára-brisas de automóveis e fios eléctricos em peças de vestuário, conferindo-lhes uma personalidade "mecânica".DL – Para o tema do Mar decorámos jeans e t-shirts com tecidos de alta visibilidade, conchas, contas, etc. JT – Quais as maiores dificuldades que sentiram…NO – A escassez de tempo. Foi realmente um trabalho contra o relógio. Durante esses três dias, a universidade foi a nossa casa.JL – Também ao nível da confecção sentimos algumas dificuldades, que foram ultrapassadas graças à ajuda dos mestrandosDL – Foi um excelente processo de aprendizagem, pois tivemos que ultrapassar muitos obstáculos. JT – E qual foi o melhor momento?NO – Sem sombra de dúvida, quando soubemos que ganhámos…JF – …Mas também quando vimos o desfile na televisão. Foi uma histeria colectiva.DL – Foi todavia uma sensação muito esquisita ver os "Moranguitos" vestidos com os "nossos" modelos. JT – O que guardaram desta experiência?DL – Tudo…JF – Só não pudemos guardar todos os modelos.JL – Foi uma experiência profissional muito enriquecedora, em todos os aspectos.DL – Aprendemos a lidar com pessoas distintas, a conjugar ideias de diferentes universos, o que também foi bastante enriquecedor em termos humanos. JT – E agora?…NO – Agora temos os nossos trabalhos da licenciatura, que são também bastante envolventes.JL – Estamos de tal forma envolvidos com os nossos projectos interdisciplinares, que temos que terminar até Fevereiro, que nem tivemos tempo para sentir qualquer vazio.NO – Temos também participado em outros concursos, quer nacionais quer internacionais, que nos vão sendo propostos ao longo do ano escolar. Neste momento, estamos a preparar um trabalho para o concurso americano CITDA – Design Competition no âmbito dos têxteis-lar. JT – São os primeiros alunos da LDMM, acabando por ser uma espécie de cobaias. O curso está a corresponder às vossas expectativas?NO – Com tinha experimentado outros cursos, já dispunha de um background que, com a informação recolhida sobre esta nova licenciatura, me permitiram fazer uma opção mais consciente que as anteriores.JL – Nunca pensei que fosse um curso tão ligado à têxtil. E hoje isto é algo que me seduz completamente. A sua organização e metodologia de ensino são muito boas. Mas é um curso muito trabalhoso…AA – Concordo com o Zé. Também não estava à espera dessa forte componente têxtil. Mas até isso tem sido deveras motivador, sem falar nos vastos conhecimentos que temos adquirido. Há também uma grande proximidade com os docentes, o que é muito positivo.JF – Eu, em contrapartida, estava à espera de uma abordagem têxtil ainda maior, mais ligada ao estilismo. Mas hoje estou convencida que as nossas competências transversais constituirão uma mais-valia numa futura carreira profissional. Afinal, hoje não é suficiente fazermos uma coisa muito bem. Temos que fazer muitas coisas muito bem. Não é o que estava à espera, mas é bem melhor.DL – Esperava um curso menos teórico e mais prático, e este projecto para os "Morangos com Açúcar" deu-me outro ânimo. No entanto, temos conseguido suprir as dificuldades encontradas graças ao apoio de todo o Departamento de Engenharia Têxtil.