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Uma boa aposta

Enquanto os retalhistas normais lutam pelo crescimento no mercado norte-americano, os designers europeus e as cadeias de lojas de gama alta ainda vêem muito espaço para expandir a sua oferta junto dos clientes mais abastados. Os consumidores norte-americanos mais ricos gastam tradicionalmente menos em luxo que os seus congéneres estrangeiros, deixando mais potencial de crescimento, se forem bem cortejados, revelou Isabelle Ardon, gestora de fundos de luxo na empresa SG Gestion, sedeada em Paris. De acordo com as estimativas de Ardon, os norte-americanos gastam normalmente cerca de 0,2% do seu rendimento pessoal em artigos de luxo, em comparação com 0,9% em França e 1% no Japão. Combinando esta proporção com o desejo dos imigrantes em mostrar o seu sucesso na ascensão social, significa que o mercado dos EUA ainda oferece uma enorme oportunidade de crescimento, afirmou Ardon no Reuters Global Luxury Summit. O presidente-executivo da Saks, Stephen Sadove, cuja cadeia opera lojas de luxo exclusivamente nos EUA, referiu que a tentativa de recuperação económica também ajudará as vendas de luxo. «Existem clientes, alguns dos clientes aspiracionais, que estão a regressar. À medida que as pessoas se vão sentindo mais confortáveis com o emprego, com a sua própria situação individual, existirá crescimento», defendeu Sadove. Algumas das mais conceituadas marcas de luxo europeias concordam e estão a procurar alcançar as perspectivas do mercado norte-americano à medida que procuram um alívio para a crise económica que se instalou no seu mercado de origem. «Nos EUA, todos os meses é um recorde [de vendas] mensal» para o relojoeiro suíço Hublot, indicou Jean-Claude Biver, director-executivo da empresa, que faz parte do grupo de luxo LVMH e é ainda um actor menor nos EUA. Entre outros nomes europeus que estão a apostar no mercado norte-americano estão a Hermès e a Longchamp, que refere que as vendas neste mercado estão em níveis recorde. As duas empresas planeiam abrir mais lojas nos EUA. O mercado norte-americano representa apenas 4% das vendas mundiais da Hermès, mas a empresa francesa abriu uma loja masculina na Madison Avenue em Manhattan no início deste ano e está a planear expandir gradualmente para além das 24 lojas que possui no mercado norte-americano. O director executivo da Oscar de la Renta, Alex Bolen, contesta a ideia dos EUA como mercado emergente, mas disse que a sua casa de moda com sede em Nova Iorque, não tinha ainda atingido plenamente o seu potencial neste mercado. «Podemos alcançar taxas de crescimento muito agradáveis e saudáveis, vendendo mais nos lugares [onde], estamos a vender produtos actualmente», afirmou Bolen, sublinhando as oportunidades nas bolsas e no calçado. No entanto, face a todo o seu potencial, o mercado norte-americano foi construído com limites que o impedem de alguma vez se tornar tão importante como a Europa ou talvez mesmo como o mercado chinês, em rápido crescimento. Ardon, da SG Gestion, refere que os norte-americanos desaprovam o exibicionismo e que os produtos chiques ocupam uma posição inferior na sua lista de prioridades. O director-executivo da casa de moda italiana Cerruti, Florent Perrichon, adverte que o luxo está menos no ADN norte-americano e que os consumidores, em geral, são menos facilmente impressionáveis pelos produtos europeus de gama alta, tornando-este um mercado difícil. «O luxo não é espontâneo nos EUA, é necessária uma comunicação forte para penetrar no mercado norte-americano», revelou Perrichon numa entrevista em Paris. «O luxo europeu é menos atractivo para os consumidores norte-americanos do que para os consumidores da Ásia», acrescentou Ainda assim, ao contrário da maioria dos países ocidentais, a população dos EUA ainda está a crescer e é ambiciosa, apontando para um mercado potencialmente robusto no longo prazo, quando os consumidores ultrapassarem totalmente a actual crise de crédito e a tempestade económica.