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Uma mulher num mundo de homens

Veronique Nichanian, diretora artística da Hermès, destaca-se no mundo da moda por ser a única mulher a criar vestuário de homem. O facto de o fazer há 26 anos é outra raridade. «Sinto sempre a mesma ansiedade», revelou antes do recente desfile da Hermès na semana de moda masculina em Paris. «Mas o entusiasmo é sempre sólido», acrescenta. Segundo conta, quando em 1988 o então “patrão” da Hermès, Jean-Louis Dumas, a contratou, disse-lhe: «gere isto como se fosse a tua pequena empresa. Tens carta branca». Anteriormente Nichanian tinha trabalhado com Nino Cerrutti, que a contratou mal ela saiu da escola de design. A criadora de moda diz que teve de «trabalhar mais» e «ser determinada» por ser uma mulher num mundo de homens e está «bastante orgulhosa» da sua longevidade. «Era um mundo muito machista e os homens não esperavam que uma mulher lhes dissesse o que fazer», recorda. Nichanian chegou a este trabalho «por acaso, de início. Depois descobri um rigor na moda de homem, enquanto pessoa que não é fã de detalhes desnecessários». Desde adolescente que a designer, agora na casa dos 50 anos, queria trabalhar na moda, sublinhando que embora os seus pais não estivessem no negócio, eram «pessoas muito elegantes», o «chique discreto» do pai, de origem americana, acompanhava a distinção da mãe e da avó, que tinham lenços e carteiras Hermès. A criadora, também ela elegante, morena com olhos brilhantes, afirma que se inspira numa miríade de fontes: «na rua… no que leio… nos desfiles». Mas com a Hermès, cujas vendas de pronto-a-vestir de homem registaram um crescimento de dois dígitos no ano passado, «é uma história contínua». Embora não haja mudanças radicais de um desfile para o seguinte, «o guarda-roupa fica mais rico de coleção para coleção», sustenta. «Alguns cortes simplesmente não mudam ou mudam apenas em milímetros», justifica. E uma vez que as roupas da Hermès tendem a ser dispendiosas, os homens não as deixam de usar quando a estação acaba, refere. «Vi coleções de há 20 anos e não tenho vergonha de nenhuma… Ainda se podiam usar hoje», reconhece. Os tecidos e as cores são sempre o ponto de partida de Nichanian, que ascendeu a diretora artística de todo o vestuário de homem da Hermès em 2008, para criar uma nova coleção. Como a Hermès é uma casa de luxo, «podemos ter os materiais mais belos», sejam de França, Itália ou Japão, revela, descrevendo o seu estilo como uma mistura de tecidos com atenção ao detalhe, assim como à linha. Como exemplo, Nichanian descreve como pode forrar bolsos de casaco com pele de carneiro, «cuja sensualidade será sentida apenas pelo homem que usar o casaco», uma espécie de «segredo» entre a designer e o consumidor. E embora os consumidores ricos sejam as visitas mais assíduas nas lojas Hermès que visita, a criadora sublinha que também encontra «jovens que poupam dinheiro» a longo prazo ao comprar peças com estilo e duradouras. Se Nichanian tivesse de citar duas peças essenciais no guarda-roupa de um homem, estas seriam «um bonito casaco azul-marinho» e qualquer peça em couro. Apesar do sucesso evidente, para já, pelo menos, a criadora não pensa em criar a sua própria casa de moda. «Isso não faria mais pela minha criatividade… Aqui está a verdadeira Veronique Nichanian. E não tenho problemas de ego», admite.