Será que a opção da Liz Claiborne, de encerrar o seu departamento de compras e subcontratar todo o aprovisionamento através da Li & Fung, marca o fim do aprovisionamento directo? Neste artigo de opinião, Mike Flanagan, director-executivo da Clothesource Sourcing Intelligence, defende que não. Mas o autor considera que, de agora em diante, serão colocadas mais questões sobre qual a melhor utilização dos recursos. Após as iniciativas semelhantes que, nos últimos anos, se registaram na Timberland, Arcandor e Tommy Hilfiger, verifica-se a tentação, por parte de muitos compradores, de se preocuparem com a possibilidade de todas as operações de aprovisionamento das grandes marcas e retalhistas serem agregadas num número restrito de super-agências. No entanto, esta leitura sobre como as compras funcionam actualmente está errada. Os grandes retalhistas e proprietários de marcas têm normalmente necessidades de compras que não podem ser acomodadas através de apenas uma abordagem ao aprovisionamento. A própria Liz Claiborne alegava ser pioneira numa política em que todos os artigos eram adquiridos por um comprador da Liz Claiborne, directamente no produtor de vestuário, mas foi uma política que poucos copiaram. O maior fornecedor da Wal-Mart? Por exemplo, a Li & Fung é frequentemente citada como sendo o maior fornecedor da Wal-Mart. E isso pode até ser verdade, apesar da Wal-Mart não sentir qualquer necessidade em divulgar essas coisas. A Li & Fung poderá ter realizado algumas compras directamente para a Wal-Mart – certamente desenvolveu-se durante a década de 90, fazendo diversos abastecimentos para os grossistas que fornecem a Wal-Mart – e faz o aprovisionamento de nichos e trabalhos de merchandising para algumas das marcas que a Wal-Mart vende, como a Levi Strauss. Adicionando todos os produtos que são vendidos pela Wal-Mart, é possível que, em alguns anos, existam mais produtos vendidos na Wal-Mart que passaram pela Li & Fung do que por qualquer outra empresa – possivelmente até mesmo do que pelos próprios escritórios de compra da Wal-Mart. Mas, se isso aconteceu, não foi por causa de uma decisão explícita do retalhista norte-americano em concentrar os seus negócios na Li & Fung. A Wal-Mart compra algum vestuário directamente, compra vestuário da sua própria marca através de grossistas; compra algumas marcas desenvolvidas especialmente em empresas com marcas próprias e compra ainda vestuário de marca. Cada qual é adquirida da forma mais adequada ao produto em causa, ao mercado de destino e ao país de origem. A Wal-Mart, com o seu mix de produtos, marcas e mercados onde opera, tem provavelmente a necessidade de compras mais complexa do que qualquer outro grande retalhista de vestuário. Mas a britânica Next, fortemente centralizada no vestuário, na sua quase totalidade sob a própria marca e com grande parte das vendas centradas no Reino Unido, também utiliza uma mistura de modelos de aprovisionamento, com a sua própria organização de abastecimento a contrapor frequentemente as ofertas feitas por outros fornecedores, incluindo a Li & Fung. A Tesco emprega 250 pessoas no seu centro de aprovisionamento localizado em Hong Kong, mas também tem de competir com as ofertas feitas por outras organizações. Na segunda parte deste artigo, Mike Flanagan continua a analisar as tendências de aprovisionamento de vestuário nas grandes marcas e retalhistas internacionais.