Concentrada em três dias e num formato virtual, a Web Summit contou com 104.328 participantes de mais de 168 países que, além da habitual programação, puderam ainda estabelecer contactos em “salas” criadas para o efeito e até envolver-se em sessões individuais espontâneas.
Em termos de conteúdos, as sessões foram vocacionadas sobretudo para as soluções, casos de sucesso e estratégias para enfrentar o momento atual e projetar um futuro pós-Covid, revela o gabinete de tendências WGSN.
Reduzir as emissões de carbono
Os compromissos para atingir emissões zero de carbono mais do que duplicaram durante a pandemia, com as empresas a tomarem novas medidas. Algumas estabeleceram metas ambiciosas, mais do que as estabelecidas com o Acordo de Paris. A diretora mundial de sustentabilidade da Amazon Kara Hurst partilhou na Web Summit o compromisso da gigante de comércio eletrónico de atingir emissões zero em 2040 (10 anos antes do Acordo de Paris), depois de ter percebido que teria de se mover mais rapidamente.
A união destas empresas está ainda a gerar oportunidades de parcerias. A diretora mundial de sustentabilidade da Amazon citou o exemplo da ligação com uma das signatárias da The Climate Pledge, a Mercedes-Benz, a quem a Amazon encomendou 1.800 veículos elétricos para fazer entregas e reduzir a sua pegada.
Justiça climática
Uma nova arena de justiça climática está a ganhar cada vez mais atenção, alimentada este ano pela importância do movimento Black Lives Matter. O CEO da Patagonia, Ryan Gellert, abordou o sentido de responsabilidade que as empresas têm de ter além da mitigação das emissões de carbono. Gellert acredita que o nosso atual sistema económico extrativo é uma questão fundamental, não só em termos de crise ecológica mas também em relação às desigualdades sociais e raciais e está empenhado em focar-se nas comunidades mais impactadas pela crise climática, expandindo os seus esforços ativistas. «Temos sido parte de um sistema demasiado focado na conservação e não nas comunidades na linha da frente», afirmou o CEO da Patagonia, que admite que a sua empresa não tem muito conhecimento ou contribuição nesta área. A marca está agora na primeira fase de aprender e ouvir, reconhecendo que é uma viagem.
Trabalho dessincronizado
A pandemia mudou a forma tradicional de atividade das empresas, com vários oradores da Web Summit a falarem sobre uma nova forma de comunicar, aprender e trabalhar.
Em ambientes de trabalho dessincronizados, há duas considerações importantes para as quais as marcas têm de estar conscientes. Por um lado, os negócios têm de assegurar que estão focados em resultados em vez do tempo gasto nas tarefas. De acordo com Henderson, «já não podemos julgar a eficiência com base no tempo em que a pessoa está sentada à secretária».
Diversificar os fornecedores
Investir na diversidade enquanto empresa começa com uma transformação interna. A consultora de impacto social The Justice Collective apoia marcas neste processo de transformação através da sua diversidade centrada em igualdade racial e estratégia de inclusão.
A cofundadora e diretora de crescimento e expansão, Danielle DeRuiter-Williams partilhou na Web Summit como a maior influência que as empresas têm é onde gastam o seu próprio dinheiro. DeRuiter-Williams acredita que essa é uma oportunidade para «mudarem e redirecionarem investimento substancial para grupos que defendem a diversidade e a inclusão» e que embora a mudança imediata não vá acontecer do dia para a noite, esta jornada pode levar a uma mudança significativa e sustentável.
Segundo Zander Lurie, CEO da SurveyMonkey, as marcas têm o luxo de escolher os seus próprios fornecedores, por isso é imperativo que coloquem «capital em fornecedores que partilham os seus valores». As empresas devem proactivamente perguntar aos seus fornecedores o que estão a fazer para tornar o seu negócio mais diverso e igualitário antes de assinarem contratos de negócio.
Cidades a pensar nos cidadãos
A pandemia de Covid-19, juntamente com as tecnologias emergentes, está a forçar a adaptação das cidades. O aumento das críticas negativas às tecnologias de vigilância e partilha de informação em Londres, por exemplo, levou o presidente da câmara da cidade, Sadiq Khan, a criar o Emerging Tech Charter para assegurar que os cidadãos têm voz no desenvolvimento de critérios para o lançamento de inovações na cidade.
Questionar o capitalismo
Embora o capitalismo seja creditado como a fonte do crescimento económico e da prosperidade, é também acusado de aumentar as desigualdades sociais. De acordo com Quinn Slobodian, professor na Wellesley College, os sistemas económicos de mercado livre estão sob ameaça porque cada vez mais pessoas estão a desafiar o status quo, favorecendo uma abordagem sistémica aos problemas atuais. A crise climática, por exemplo, está, de muitas formas, ligada a um comportamento capitalista desregulado, onde os sistemas ecológicos aparecem cada vez mais além do nosso controlo.
Segundo Slobodian, mais interessante será como o descontentamento em relação ao capitalismo vai ser canalizado. Quando as pessoas perdem confiança na fiabilidade de um sistema para lhes dar oportunidades adequadas, protestam, revoltam-se e procuram formas de expressar as suas preocupações. No entanto, a direção deste descontentamento tem sido canalizada para partidos de direita, convencendo os cidadãos que este é um ponto de tensão política quando, na verdade, o descontentamento resulta do sistema económico implementado.
Triller depois do TikTok
A plataforma de vídeos curtos Triller, que alguns consideram concorrente do TikTok, está a captar a atenção da Geração Z e das marcas.
As marcas começaram a aderir à Triller para responder a uma audiência crescente, com Sarnevesht a citar uma campanha recente da Pepsi batizada Unmute Your Voice. A iniciativa foi lançada como um concerto na app com artistas como Demi Lovato e Chance the Rapper e encorajava os jovens a votar. «Conseguimos converter muita gente a registar-se para votar e também explicar a democracia às pessoas», garantiu o presidente-executivo e proprietário da Triller.