Ana Maria Rocha, diretora-adjunta do 2C2T – Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil (ver «Tentamos antecipar a tendência do negócio»), entrou na Universidade do Minho em 1976 – numa turma que está hoje a escrever o futuro da ITV nacional, com Arnaldo Machado (Somelos Tecidos), António Ressurreição (Naturapura) e Francisco Gomes (Fábrica de Tecidos do Carvalho) –, apenas um ano após o início do curso de Engenharia Têxtil e, tirando um ano de experiência na Coelima após a formação, manteve-se na instituição de ensino superior, onde além de dar aulas, promove a investigação na área dos têxteis inteligentes.
«Em 2000 fui convidada para ir à Comissão Europeia, numa altura em que as políticas europeias estavam muito viradas para a parte da saúde, utilizando materiais que fizessem avaliação dos sinais vitais, que conseguissem promover algum bem-estar e permitissem saber, estando em casa, como as pessoas se encontravam – algo que não fosse intrusivo, ou seja, que não se tratasse daqueles dispositivos médicos intrusivos, que toda a gente usa e ninguém gosta», revela, ao Jornal Têxtil (novembro 2017), Ana Maria Rocha sobre a área de investigação que prosseguiu dentro do 2C2T. «Começámos a ter projetos que não resultavam logo em coisas que poderiam ser aplicadas na indústria mas que eram provas de conceito ou demonstradores para que as empresas tomassem consciência de qual seria o futuro, em que se deveria apostar para, de facto, nos mantermos na crista da onda em termos de têxtil ou de materiais», explica.
Neste momento, a diretora-adjunta do 2C2T supervisiona quatro projetos de investigação de doutoramento, três de mestrado e quatro projetos conjuntos com empresas e pelas suas mãos passaram já diversas investigações aplicadas.
Uma delas consistiu no desenvolvimento de vestuário para dermatite atópica, com a Newtextiles. Já na área das peúgas, os desenvolvimentos estão a ser perseguidos na conjugação da aplicação médica com o desporto. «Isso coloca um desafio extra: no desporto, estamos com atividade normalmente intensa, o que significa que a parte do conforto da meia é muito importante. Quando estamos na parte médica, a atividade não é intensa e, portanto, o conforto é menos relevante do que o nível de compressão. Portanto, torna-se mais fácil desenvolver qualquer coisa para a área médica do que para uma área de desporto», afirma.
Num projeto de mestrado, desenvolvido em conjunto com uma empresa, foram aplicados fios de nitinol [uma liga metálica de níquel e titânio], um material com memória de forma que pode ser programado e mudar de forma em função da temperatura, a meias de compressão, de maneira a que a mesma se mantenha constante, mesmo quando as pernas incham. «Programámos os fios de nitinol para que, quando houver aumento de temperatura, porque está associado ao perímetro, a estrutura abra ligeiramente com esses fios de nitinol», refere Ana Maria Rocha.
Outro projeto nesta área está a ser desenvolvido com a A. Fiúza. «Eles querem umas peúgas para futebol que façam compressão – porque está provado que as peúgas de compressão favorecem a recuperação dos músculos – e que, ao mesmo tempo, incorporem sensores para medir as forças nos músculos, quer para reabilitação, quer para treino, de modo a determinar quais são as melhores posições para se conseguir retirar o maior desempenho dos atletas», adianta. Um desenvolvimento que vem no seguimento do projeto BioSwim, que consiste num fato de natação com compressão em diferentes pontos para otimizar a performance. «É a mesma coisa que estamos agora a fazer nas peúgas – por eletromiografia ficamos a saber quais são as deformações para se conseguir fazer com que o atleta melhore», acrescenta Ana Maria Rocha.
Com a Somelos Tecidos (ver Somelos Tecidos sob o signo da inovação), a investigadora esteve envolvida no desenvolvimento do tecido bi-elástico e faz parte da equipa que acompanha o projeto demonstrador TexBoost, e está ainda a desenvolver o projeto Protactical em parceria com a Latino Confecções (ver Latino rentabiliza o conhecimento). «O projeto surgiu há muitos anos atrás. Foi um aluno que me despertou a ideia. Ele estava a trabalhar com a ICC-Lavoro e falou-me num casaco de bombeiro, com a ideia de baixar o peso do casaco e aumentar o isolamento térmico. Com o conhecimento que fui adquirindo na área dos têxteis inteligentes, lembrei-me de atualizar um fato de bombeiro, de forma a que permitisse saber onde estava o bombeiro e as condições que ele tinha», indica.
O projeto contempla o desenvolvimento de sensores de base têxtil, mas também uma rede de comunicações, com os fios condutores e as ligações a serem integrados durante a tricotagem. «Temos uma patente sobre a estrutura do elétrodo. Para termos sinais vitais, e para não ter ruído, é preciso ter os elétrodos bem justos. O elétrodo tem uma forma tubular que ajuda a manter o contacto com a pele sem necessitar de nenhum gel. É um tubo e a própria compressão do tubo faz com que fique fixo no sítio», esclarece Ana Maria Rocha, realçando a integração de várias áreas de conhecimento no projeto. «Para podermos desenvolver qualquer coisa agora, temos que associar muitas disciplinas, porque senão torna-se numa coisa muito pouco inovadora», garante.